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Para o general francês Watin-Augouard, mudança de governo com eleição de Bolsonaro não deve afetar cooperação entre os dois países
Diante de modelos algorítmicos cada vez mais sofisticados, capazes de capturar e estocar informações, a proteção de dados tornou-se uma preocupação essencial para os europeus.
Os países do continente, além de serem alvo do terrorismo internacional, vêem com preocupação a onda conservadora que levou ao poder Donald Trump, nos Estados Unidos, e mais recentemente Bolsonaro. Em ambos os casos, a manipulação em massa de dados foi apontada como a principal razão de duas vitórias consideradas improváveis há alguns anos.
Essas questões estão no centro dos debates que acontecerão na décima-segunda edição do Fórum Internacional da Segurança Cibernética, que acontece nesta terça (22) e quarta-feira (23) em Lille, no norte da França.
A colaboração com outros países, como o Brasil, também é uma das temáticas do encontro, explicou em entrevista à RFI o general Watin-Augouard, fundador do Fórum. A meta é criar alternativas ao monopólio do mercado tecnológico criado pela China e Estados Unidos, que acabam beneficiando de mais acesso aos dados, a moeda do século 21.
“Se a Europa não propuser uma terceira via, amanhã estaremos no meio dois polos fortes, que são os Estados Unidos e a China. Evitar esse cenario interessa o resto do mundo. E o resto do mundo talvez deva imaginar uma estratégia de independência ou pelo menos de mais soberania”, avalia o general francês.
Os cabos submarinos transportam as fibras ótica que conectam a rede mundial e ilustram essa situação. Essa parafernália invisível é responsável por 99% do tráfico mundial de dados. A construção dos cabos teve grande investimento dos GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft), que patrocinaram uma grande parte da estrutura que liga os EUA à Europa. Neste contexto, observa Watin-Augouard, a posição do Brasil é geoestratégica.
“O Brasil tem um papel importante. Quando olhamos o mapa dos cabos submarinos, notamos que vários deles saem do Brasil e vão para o continente africano. Trata-se de um circuito mais independente, “alternativo”, sem estar mais sistematicamente ligado ao circuito americano, construído no início da internet”, ressalta o general.
Cooperação com Brasil sempre foi forte
Para ele, apesar da preferência declarada de Bolsonaro pelos Estados Unidos, a França e o Brasil devem continuar sua política de cooperação. “O governo francês deve continuar a agir com o governo brasileiro, que para a França é um parceiro essencial. Somos vizinhos na Guiana francesa, e mesmo que não estejamos próximos nas metrópoles, temos essa proximidade ultramarina”, ressalta.
“Os brasileiros fizeram sua escolha e a França vai continuar a agir como sempre fez com o Brasil, mantendo as relações diplomáticas, econômicas e culturais que sempre foram fortes entre os dois países. Não ha razão para que isso mude.”
Aplicação do regulamento Europeu de Proteção de Dados é prioridade
O Forum também se interessa à maneira como a Europa pode exercer mais liderança na proteção dos dados. Isso passa pelo respeito ao Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, adotada em maio de 2018, aplicada a indivíduos e empresas, que limita a coleta de informações.
O recado é claro: se companhias estrangeiras quiserem continuar a fazer negócio com o continente, deverão, no mínimo, assegurar uma proteção adequada às informações que circulam na web, principalmente nas redes sociais, como prevê a diretiva.
Existe também a preocupação em prevenir a manipulação em massa de dados que possam influenciar diretamente as democracias, como ocorreu na eleição de Trump, nos EUA, e de Bolsonaro, no Brasil. Sabe-se que, nos dois casos, Facebook e WhatsApp tiveram um papel essencial no convencimento dos eleitores.
O governo francês foi o primeiro da Europa a legiferar a respeito, adotando uma lei em 22 de dezembro de 2018 que luta contra a manipulação da informação no período eleitoral. A partir de agora, três meses antes do pleito, plataformas como o Facebook serão “monitoradas” para garantir a transparência do processo. As redes poderão ter que explicar, de maneira clara, o funcionamento de seus algoritmos e a classificação de conteúdos que podem ter influência direta na opinião dos eleitores.
“Em relação às redes sociais, na França há o desejo de cooperar e dialogar, mas ao mesmo tempo lembrar, mesmo em termos penais, que as regras devem ser respeitadas, principalmente no período eleitoral”, explica o general. A grande dificuldade é identificar as fake news rapidamente para impedir sua propagação. As eleições europeias, de 23 a 26 de maio, lembra, serão o primeiro teste para avaliar a eficácia dessa regulamentação.
Concepção das ferramentas
Outro tema do encontro é a integração da proteção dos dados desde a concepção dos sistemas utilizados nos dispositivos, sejam smartphones ou objetos conectados. Há reatividade na gestão de incidentes, mas a ideia é evitar que eles ocorram, ressalta Watin-Augouard. “Os dados pessoais são uma das grandes questões do mundo hiperconectado, que gera uma coleta de estocagem e transferência de dados que são extremamente sensíveis”, conclui o general francês.
O Facebook, rede social que se tornou uma plataforma de organização para os manifestantes franceses, exerce cada vez mais influência direta nas democracias. Mas a ausência de um debate coerente tende a esvaziar o movimento que surgiu para protestar contra o aumento do imposto sobre o combustível e se tornou uma revolta popular.
O que Trump, Bolsonaro e o movimento dos "coletes amarelos" na França têm em comum? Suas trajetórias convergem em torno do Facebook. Nos dois primeiros casos, a rede social teria sido usada como arma de manipulação em massa, como prova o escândalo de roubo de dados orquestrado pela empresa britânica Cambridge Analytica e as denúncias envolvendo a campanha de Bolsonaro no Whastapp, que pertence ao Facebook.
Já o movimento francês, que nos últimos finais de semana invadiu as ruas de Paris e das maiores cidades da França, nasceu na rede social, mas diferentemente dos cases eleitorais citados acima, foi espontâneo. Tudo começou no dia 10 de outubro, quando o motorista de caminhão Eric Drouet criou um evento no Facebook para protestar contra a alta do imposto sobre os combustíveis, que deveria entrar em vigor no início de janeiro.
Oito dias mais tarde, a hipnoterapeuta Jacline Mouraud, que vive na Bretanha, publicou um vídeo de quatro minutos na plataforma. Ela denunciava a postura do governo em relação à população que precisa do carro em seu dia-a-dia –franceses que vivem em cidades afastadas ou na periferia de grandes centros, onde o transporte público é deficiente. O vídeo viralizou e teve mais de 6 milhões de visualizações.
A repercussão levou a francesa, que recebeu ameaças, a fechar sua conta, mas o movimento estava lançado. Em poucos dias, centenas de vídeos, imagens e petições começaram a circular nas redes sociais, exigindo que o governo voltasse atrás em sua decisão. Na esteira dos protestos virtuais, surgiram outras reivindicações contra decisões tomadas pelo Executivo francês. Entre elas, o aumento dos impostos sobre as aposentadorias e a supressão do ISF, o imposto sobre a fortuna, medida que encarnou a “política para os ricos”, da qual foi acusado o presidente Emmanuel Macron.
Falta de diálogo construtivo
O movimento dos coletes amarelos não é formado por militantes politizados, como foi o caso da Primavera Árabe, em 2010, por exemplo. Esse aspecto tende a esvaziar o protesto – o que já vem acontecendo desde o dia 8 de dezembro, lembra Pierre Olivier Cazenave, especialista em redes sociais e criador do Social Media Club, grupo francês de discussão sobre o uso das plataformas digitais. Segundo ele, a falta de politização não permitiu que os "coletes amarelos" estabelecessem um diálogo construtivo no Facebook.
Sem contar que os protestos reúnem diferentes grupos, o que dificulta ainda mais a coerência do debate. Entre eles, trabalhadores precários, em sua grande maioria, mas também moradores da zona rural, cidadãos eurocéticos, membros da extrema-direita, da extrema-esquerda, e no meio disso tudo, a vertente mais violenta: grupos extremistas que aproveitaram as manifestações para promover o quebra-quebra.
“Temos a impressão que, fora o fato de Facebook ter sido usado como suporte de mobilização, a rede não possibilitou uma verdadeira discussão entre manifestantes sobre suas perspectivas e o movimento. A impressão é de que não existe um diálogo construtivo no Facebook”, diz Cazenave. Ele lembra que o algoritmo do Facebook gerencia os compartilhamentos por afinidade: ou seja, nas timelines dos membros dos diferentes grupos dos "coletes amarelos", aparecem somente conteúdos publicados por internautas que têm a mesma opinião.
Nessa massa de vídeos, artigos e links, as fake news se disseminam na velocidade da luz. “Se a informação for falsa, mas corresponde a uma opinião com a qual a pessoa concorda, será compartilhada, e isso vai ajudar a disseminar um posicionamento”. Essa é a dinâmica que se instaurou no movimento dos "coletes amarelos", explica o especialista francês.
Movimento “emotivo” se propaga mais rápido no Facebook
A realidade é que, da mesma maneira que o Facebook mobiliza, também dispersa. Os protestos dos "coletes amarelos", explica Pierre Olivier Cazenave, tiveram desde o começo uma forte motivação “emocional”, o que dificultou a construção de um verdadeiro projeto em torno das reinvindicações. Existia, e ainda existe, o sentimento de que há excesso de impostos, perda de poder aquisitivo, mas sem formulações mais precisas sobre ações que poderiam reverter esse quadro. “Nas primeiras horas de mobilização, não havia nenhuma reivindicação formulada de maneira clara. Esse enraizamento emotivo da mobilização ganhou ainda mais força nas redes sociais”, analisa Cazenave.
A força do movimento, entretanto, levou o governo a voltar atrás e a renegociar certas medidas. O governo Macron cancelou, por exemplo, a alta do preço dos impostos sobre o combustível e prometeu um aumento de €100 mensais no salário mínimo. Uma das maiores dificuldades do governo aliás, foi encontrar interlocutores dos "coletes amarelos" para negociar uma saída para a crise – já que o movimento se alastrou de maneira difusa, sem um único líder, utilizando o poder das imagens que mais viralizaram na internet. “Os 'coletes amarelos' querem ser ouvidos, mas também vistos. O triunfo da imagem, do vídeo, é algo interessante a ser observado”, diz Cazenave.
Resta saber agora qual será o futuro do movimento, que perdeu força depois do atentado de Estrasburgo, no dia 11 de dezembro – o que levou ao surgimento de um boato na rede sobre a existência de um “complô” para enfraquecê-los.Teoria, lembra Pierre Oliver Cazenave, que não tem credibilidade. “O atentado foi o momento onde todos os franceses apoiaram a polícia. Foi um momento inédito das manifestações na França, onde vimos as pessoas aplaudirem as tropas de choque da polícia quando elas passavam.”
Especialista belga ouvido pela CPI britânica no caso da empresa Cambridge Analytica, que pirateou dados do Facebook, explica como são criados os modelos matemáticos para influenciar eleitores e marcas
No início do ano, Christopher Wylie, diretor do grupo britânico, revelou que a Cambridge Analytica pirateou dados pessoais de cerca de 87 milhões de usuários do Facebook, a maioria americanos. O objetivo: influenciar a votação na eleição presidencial dos EUA que levou à vitoria de Trump.
No Brasil, a recente denúncia sobre o financiamento ilegal da campanha de Bolsonaro - empresários que teriam bancado disparos em massa contra o PT no aplicativo WhatsApp- trouxe novamente à tona a discussão sobre a utilização dos dados dos internautas que circulam na web para influenciar o resultado nas urnas.
A RFI Brasil entrevistou com exclusividade o matemático belga Paul-Olivier Delaye, fundador da empresa PersonalDataIo e especialista na proteção de dados. Ele foi consultado como expert na CPI aberta pelo Parlamento britânico em março de 2018, sobre o caso Cambridge Analytica.
RFI - Uma das técnicas usadas na manipulação dos dados é a Psicometria, que ajuda a construir a personalidade dos indivíduos a partir dos traços que deixam na web quando estão conectados. Como podemos defini-la?
Paul-Olivier Delaye - A Psicometria é uma teoria em Psicologia que não é aceita por todo mundo. Segundo essa teoria, podemos medir o perfil psicológico de alguém. A pessoa pode ser aberta, meticulosa, extrovertida, agradável ou neurótica. Essas cinco características por si só já definem um perfil psicológico. Num contexto político, emocional, elas têm um valor preditivo. Podemos prever como as pessoas vão reagir.
RFI – Esse ainda é o método usado hoje atingir eleitores potenciais em uma campanha politica, por exemplo?
POD - Novas técnicas emergiram, permitindo a criação do perfil de um indivíduo através da interação coletada de maneira massiva na Web, como, por exemplo, os “likes” no Facebook. A partir de um “like” podemos construir o perfil psicológico de um indivíduo. A vantagem, em relação a um questionário de Psicologia, como no caso da Psicometria, é a escala. A segunda vantagem é que podemos, usando Facebook, atingir pessoas com características psicológicas específicas que buscamos.
RFI - Como surgiu essa técnica?
POD - A principal delas foi desenvolvida na universidade de Cambridge. Os pesquisadores usaram questionários padrões de Psicologia para avaliar as pessoas. Em seguida, consultaram o perfil Facebook dos participantes dos estudos. A observação dos “likes” possibilitou um ajuste do questionário. Esse modelo também pode ser usado no outro sentido: construir o perfil psicológico de uma pessoa a partir dos “likes”. Os pesquisadores demonstraram que, a partir de 170 “likes”, o modelo criado é mais preditivo, ou seja, mais fiel à verdadeira personalidade do indivíduo do que seria a descrição do próprio parceiro em um casal. Em princípio, o algoritmo conhece você melhor do que seu marido ou esposa!
RFI - Os “likes”devem ser públicos?
POD - Os “likes” foram retirados do acesso público. Com o passar do tempo, foi necessário o uso de técnicas mais sutis para ter acesso a esses “likes”. Usamos diferentes técnicas. Seus amigos, por exemplo, podem ver seus “ likes” no Facebook. Se você integra um grupo, por exemplo, você expõe seus “likes” ao administrador do grupo.
RFI - A conclusão é que não existe privacidade nas redes sociais.
POD - As redes sociais ganham dinheiro encorajando as pessoas a compartilharem o máximo de informações possíveis sobre elas mesmas e entre seus amigos. Em seguida observam esse compartilhamento para manipular os dados que são coletados para fins publicitários.
RFI - E no WhatsApp, os dados podem ser coletados da mesma forma?
POD - Há uma diferença entre o Messenger do Facebook e o WhatsApp. Os dois pertencem ao Facebook, mas, pelo menos por enquanto, o conteúdo do WhatsApp é criptografado. Facebook pode ler uma mensagem no Messenger, mas não pode ler uma mensagem WhatsApp. Por outro lado, pode coletar os metadados associados à rede para uso publicitário. Facebook sabe, graças ao WhatsApp, quem é seu marido, sua família, sua empresa, o esporte que você pratica, etc.
RFI - Como essas técnicas podem ser usadas em campanhas eleitorais?
POD - Essas técnicas são usadas para incitar à viralização nas redes sociais e encorajar as pessoas a reagirem de uma certa maneira, compartilhando conteúdos que não correspondem necessariamente à verdade. E, graças a isso, dirigir o debate, ou a discussão pública, sobre temas bem específicos. Trata-se de uma ferramenta de manipulação da informação em grande escala. Além das cinco noções da Psicometria que defini antes usadas na construções de perfis influenciadores, há outras noções importantes: o que chamamos de locus of control (quem você responsabiliza pelas mudanças em sua vida? Você mesmo ou o destino?), need for cognition (a necessidade de pensar antes de tomar uma decisão) e need for affection (necessidade de sentir emocionalmente essa decisão antes de toma-la). Na construção dos algoritmos, podemos caracterizar as pessoas usando dados, e se percebemos que se alguém esta mais próximo do perfil need for affection, por exemplo, estamos diante de uma pessoa que pode ser facilmente influenciada pela emoção, sem nenhuma, ou pouca reflexão. Desta forma, se compartilharmos com esse indivíduo um conteúdo político, que tem bastante ressonância, isso vai encorajá-lo a compartilhar esse conteúdo sem pensar. Os efeitos podem ser muito surpreendentes em termos de feedback no Facebook. Esse pequeno grupo compartilhará o conteúdo entre si, e isso, por conta da natureza comercial da rede, levará o algoritmo de Facebook a buscar outras pessoas com as mesmas características. Isso levará naturalmente a uma viralização com pouca reflexão sobre o que foi compartilhado. O problema é quando focamos apenas nessas pessoas.
RFI - E o chamado “dark post”?
POD - É uma outra ferramenta. Podemos fazer circular uma mensagem dentro de uma comunidade, sem que outras pessoas, como jornalistas ou ONGs, possam acessar os conteúdos que circulam nesse grupo. Isso impede a visão de um debate aberto e democrático em um contexto de eleições. Há pessoas que se deixam influenciar, não sabemos como, com falsas informações que circulam, mas sem feedback crítico sobre essas informações.
RFI - Podemos comparar o que acontece no Brasil com a campanha eleitoral americana?
POD - Observamos uma esfera política cada vez mais complexa para os jornalistas, que têm dificuldade em acompanhar essa dinâmica. Foi o que aconteceu na campanha americana. Os jornalistas tinham problemas para explicar o que estava acontecendo, justamente porque havia informações que circulavam em redes nas quais eles não tinham acesso. O paralelo entre o Brasil e os EUA é esse: alguns atores conseguem manipular as redes eletrônicas de maneira mais eficaz que os jornalistas conseguem cobrir os eventos. Para mim, há um problema de base muito importante: o papel dessas redes na difusão do conteúdo jornalístico. Os jornalistas se tornaram muito dependentes delas e isso faz com que a cobertura sobre as redes sociais não tenha sido suficientemente crítica no passado.
Na contramão da sala de aula, filósofos e escritores deixam a lousa e se transformam em youtubers famosos, com milhares de visualizações diárias. A receita: transformar conceitos herméticos de Física, Química, Filosofia e outros assuntos em conteúdos acessíveis para a geração conectada.
Um dos ícones dessa tendência é o físico David Louapre, criador do canal e do blog Science étonnante (Ciência Surpreendente, em tradução livre). Especialista da Gravidade Quântica, ele criou seu blog em 2011 e se tornou uma referência da chamada vulgarização científica. Em seguida, o físico se aventurou no YouTube.
Em 2016, a Sociedade francesa de Física concedeu o prêmio Jean Perrin pela sua contribuição à midiatização de assuntos complexos, como o Efeito Borboleta e a Teoria do Caos, por exemplo. Seus vídeos podem chegar a um milhão de visualizações.
Com o sucesso, David Louapre passou a atuar em diversas frentes. O físico tem dois livros lançados pela editora francesa Flammarion e também participa dos programas da rádio France Culture, onde disserta sobre temas variados. Em 2016, ele deu essa entrevista ao canal Science de Comptoir, do YouTube, onde fala sobre o início de sua carreira como blogueiro e depois videasta.
“A vantagem do texto escrito é que o leitor escolhe seu ritmo. Se ele não entende alguma coisa pode ir mais devagar ou voltar atrás. O vídeo passa e se você não entendeu algo, já era", diz. "No início pensei que esse formato não fosse adaptado para explicar conceitos complexos de Ciências. Então percebi que, na verdade, era uma maneira poderosa de criar uma conexão com o telespectador, e que do ponto de vista pedagógico é muito interessante", conclui.
A RFI Brasil tentou entrar em contato com David Louapre, mas sua assessora foi franca: seu sucesso e agenda cheia não o obrigam a responder todas as demandas da imprensa no prazo desejado.
Questões existenciais
David Louapre não é o único que fez do YouTube seu ganha-pão e descobriu na plataforma uma maneira de tornar assuntos herméticos interessantes para estudantes que têm dificuldade de se concentrar na sala de aula. Thibauld Giraud, professor de Filosofia do liceu Marguerite de Navarre, em Alençon, na Normandia, criou o canal Mr Phi (Senhor Filosofia, em tradução livre), em agosto de 2016.
Ele se destaca no YouTube por ser um dos únicos a falar sobre questões existenciais. O sucesso foi tanto que hoje o professor se dedica unicamente ao seu canal, que foi monetizado e possibilita que ele viva apenas de seus vídeos, que totalizam mais de 3 milhões de visualizações – um número importante para o mercado francês.
O formato, ele acredita, permitiu a muitos de seus alunos entender teorias aplicadas ao cotidiano, como nesse vídeo onde ele explica, por exemplo, como “demonstrar qualquer coisa” através de uma argumentação consistente. O professor lembra que um argumento é um conjunto de premissas que justificam uma conclusão, mas só é válido se as premissas são verdadeiras ou reconhecidas como tal e têm uma relação direta com a conclusão.
Explicado dessa maneira, pode parecer complicado, mas a linguagem utilizada pelo professor de Filosofia em seu vídeo facilita o interesse pela matéria, como ele explicou à RFI.
“O fato que eles possam se interessar pelo assunto já é uma vitória. Um dos obstáculos da Filosofia é que muitos alunos não se interessam nem um pouco pelo assunto e têm problema em prestar atenção em uma hora de curso. Com um vídeo de 10 ou 15 minutos é bem mais fácil captar essa atenção”, diz.
Salário pago por doações
Ele explica que a Filosofia é uma matéria obrigatória que “aparece” no último ano do segundo grau na França, um momento crucial para os estudantes, que devem dominar a arte de escrever uma dissertação. Esse contexto, diz, não é estimulante para o aprendizado da disciplina. A escolha dos assuntos para seu canal, diz, é uma mistura de suas preferências com temas que funcionam bem no YouTube.
Desde setembro de 2017, Thibaud abandonou as salas de aula para se dedicar exclusivamente ao canal. Seu salário é pago pelas doações feitas pelos internautas, o que é relativamente raro. Thibauld e David Louapre são pioneiros, mas outras dezenas de canais pululam na web francesa. Entre eles, Lanterna Cósmica, Scienceclic e Heu?reka, que tratam de Física, Química, mas também Economia e Finanças.
O engenheiro mecânico francês Philippe Rouch e sua equipe recriam em laboratório os movimentos dos atletas para ajudá-los a sofrer menos contusões. A tecnologia é usada por jogadores da seleção francesa de futebol.
No campus do Instituto de Engenharia Arts et Métiers, situado no 13° distrito de Paris, trabalha o engenheiro mecânico Philippe Rouch, um especialista dos movimentos humanos e, principalmente, dos atletas.
No laboratório de biomecânica do Instituto, jogadores da seleção francesa de futebol, treinadores de times de rugby, basquete ou outros esportes consultam de maneira anônima o engenheiro francês. O objetivo é obter uma modelização personalizada de como se comportar fisicamente em campo, para evitar contusões. Esse diagnóstico é utilizado pelos técnicos para melhorar o desempenho e ao mesmo tempo proteger as articulações dos jogadores de lesões graves.
Para isso, diversos parâmetros são levados em conta. No caso do futebol, um robô, batizado de Jarvis - em homenagem ao robô-mordomo da trilogia "Homem de Ferro" - testa, por exemplo, qual o melhor modelo de chuteira a ser adotado, em função do gramado, das condições climáticas, do estilo de jogo e da posição do craque.
Para isso, a equipe usa um programa de computador em open source, OpenSimulator, que grava em 3D os movimentos de atletas profissionais e envia as informações para o robô, que repete a ação de maneira idêntica. A base de dados tem milhares de movimentos registrados, obtidas a partir das imagens dos jogos.
Segundo o engenheiro francês, durante um passe, um jogador pode sobrecarregar sua musculatura em até dez vezes seu peso. Por isso, é essencial pensar na forma, na elasticidade e na maciez do tecido que reveste o calçado. O objetivo é aliviar o esforço feito pelo jogador, que é medido com precisão pelo robô.
Por que no futebol os atletas se machucam tanto em campo? Segundo o engenheiro francês, diversos fatores influenciam as contusões no esporte, que gera uma grande sobrecarga física.
Para atletas de alto nível, lembra o diretor do instituto de biomecânica, é fundamental manter uma vida saudável e uma preparação física adequada, além de exercícios apropriados para moldar a musculatura em função das exigências nos treinos cotidianos.
Além disso, é importante evitar certos movimentos. Para isso, o laboratório conta com uma base de dados de lances que resultaram em contusões. As imagens foram obtidas de gravações disponibilizadas para a arbitragem. “Há gestos que não devem ser feitos, como recepcionar uma bola e cair apoiando só em uma perna, por exemplo. Pode causar ruptura nos ligamentos. O técnico pode habituar o jogador a cair usando as duas pernas, programando o cérebro para automatizar o movimento. Habituamos assim o jogador a fazer um gesto ou a evitá-lo”, explica.
“Neymar é excepcional, mas precisa de repouso”
Philippe Rouch recebe com frequência jogadores famosos da seleção francesa, cujos dados são guardados a sete chaves, mas nunca atendeu brasileiros. O engenheiro francês é um admirador do futebol da Seleção e diz que ficaria honrado em registrar em seu computador os movimentos de Neymar, por exemplo.
“Existe uma filosofia de jogo brasileira, que é insuperável, que todos, inclusive a seleção francesa, tentam copiar. Uma facilidade de dançar com a bola, de entrar em contato com ela, que todos os jogadores tentam imitar", diz. "Isso exige uma capacidade física fora do comum. Há também especificidades ligadas às origens das pessoas. As fibras musculares são diferentes”, explica o engenheiro francês, que lembra como as particularidades genéticas fazem diferença no desempenho esportivo.
Esses movimentos “fluidos”, típicos do futebol brasileiro, normalmente deveriam proteger os jogadores das lesões. Isso porque o nível de aceleração é menor, protegendo as articulações, mostram as pesquisas. O problema, explica o engenheiro francês, é que essa maneira “macia” de jogar não impede o desgaste gerado pelo excesso de treinos e partidas, que são bem mais numerosos hoje do que há algumas décadas. Além disso, as agressões em campo, das quais Neymar foi vítima, por exemplo, acabam prejudicando a saúde dos jogadores.
“O juiz deve se empenhar em impedir essas agressões, que atrapalham o jogo e machucam os atletas. Existem jogadores tão sensíveis aos lances em campo que essas contusões os afetam emocionalmente”, lembra Philippe. Para entender como um passe errado pode afetar os ligamentos e os tendões, a equipe utiliza cadáveres para testar como o corpo reage às contusões.
Os estudos mostram que, em cada jogo de futebol, são registradas cem lesões. No esporte, os jogadores muitas vezes se machucam sozinhos, lembra o especialista. Cerca de 60% das contusões não envolvem um lance com outro atleta.
Mais uma vez, isso ocorre porque jogadores como Neymar, por exemplo, são muito solicitados, ressalta o engenheiro. “Neymar é um jogador excepcional, que trabalha muito, todos querem vê-lo. O excesso de midiatização acaba sendo um problema. Chega em um ponto em que é preciso repouso.”
Segundo a Federação Francesa de Futebol, um terço dos jogadores não se recupera totalmente de uma ruptura do ligamento cruzado anterior antes de três anos. Atacantes dificilmente prolongam a carreira depois dos 36 anos.
Philippe Charlier, médico-legista e antropólogo especializado em personagens históricos que identificou os ossos do ditador nazista em 2017, viajara no ano que vem para o Brasil, para estudar as divindades do candomblé.
Chefe do setor de antropologia do hospital de Nanterre, na região parisiense, o francês Philippe Charlier tornou-se famoso pelas suas pesquisas envolvendo os restos mortais de personagens célebres, como o rei francês Henrique IV, assassinado em 1610 em Paris. Entre julho e setembro de 2017, ele analisou pedaços de ossos, um maxilar, próteses dentárias e parte de um crânio atribuídos a Hitler. O resultado dos estudos foi publicado em maio no European Journal of Internal Medicine.
Os restos estavam conservados na sede da KGB, o antigo serviço secreto russo, em Moscou. Pela primeira vez, desde 1946, as autoridades russas autorizaram o estudo do material. O legista pôde confirmar que eles de fato pertenceram ao führer e também a causa de sua morte, em 30 de abril de 1945, aos 56 anos, em seu bunker, dois dias antes de Berlim cair nas mãos dos soviéticos perto do fim da Segunda Guerra Mundial.
Hitler teria se suicidado ingerindo cianureto, mas um buraco de bala encontrado em um dos ossos do crânio acrescenta uma nova informação a essa versão: o ditador nazista não morreu sob o efeito do veneno, que teria sido insuficiente, mas com um tiro na cabeça dado por ele mesmo ou um soldado. “Encontramos uma substância branca nas próteses dentárias e pedaços de vidro bem finos, bloqueados entre os dentes e a gengiva, que poderiam corresponder ao resto dessa ampola de cianureto, que foi mordida por Adolf Hitler, e que provavelmente não funcionou rapidamente", diz o legista. "Esta é uma das razões que o levou a pedir a um de seus ajudantes que o ajudasse a se suicidar dando um tiro. Ainda não sabemos se foi uma atras do queixo ou na têmpora do lado direito”, acrescenta.
As análises mostram, entretanto, que o führer não deu um tiro colocando a arma dentro da boca. Essa afirmação é possível graças à verificação dos resíduos encontrados nos dentes e no maxilar, que possibilitam identificar a trajetória da bala e a existência de restos de pólvora. Os dados ainda estão sendo estudados pelo médico francês.
Ele explica como obteve a autorização para estudar os restos mortais que revelam detalhes pessoais da vida de Hitler, como o fato de ser vegetariano ou vítima do Mal de Parkinson, doença neurológica que provoca tremores. De acordo com Charlier, o fato dele e dos médicos que o acompanharam nesta aventura serem independentes, e pertencerem a uma zona geopolítica “neutra” foi fundamental.
O legista francês, conhecido mundialmente, também lembra que seu método que consiste na aplicação de técnicas da Medicina forense em estudos arqueológicos. “A Medicina forense aplicada na Arqueologia nos permite voltar no tempo e ter certeza sobre certos dados biológicos destes indivíduos. Nunca trabalhamos sozinhos nesse tipo de pesquisa. Somos cinco ou seis”, ressalta. As equipes são multidisciplinares. Geneticistas, químicos, historiadores e especialistas em Historia da Arte trabalham juntos para reconstruir o passado.
Agora, Philippe Charlier, que ainda têm em mãos os restos mortais do ditador nazista, tenta reconstituir a flora de Hitler, ou seja, a composição de vírus, bactérias e parasitas do tártaro dentário encontrado nos ossos da boca ditador. Por enquanto, todos os ossos foram autentificados, resta apenas uma duvida em relação ao crânio que, de acordo com o legista, em breve deve ser esclarecida comparando o DNA do osso com o do maxilar, que pertenceu de fato ao führer.
Antropologia e política
Hitler não foi o único personagem histórico analisado pelo legista. Em 2013, o especialista e sua equipe, formada por cerca de 30 pessoas, autentificaram os ossos do crânio do rei francês Henrique IV, encontrados na casa de um aposentado em 2008.
Alguns anos depois da Revolução Francesa, em 1793, a cabeça do rei, assassinado em 1610, foi jogada numa fossa comum assim como de outros soberanos. Ela foi adquirida por um fã da monarquia em 1919, e recuperada em uma granja perto de Paris pela equipe do legista, que autentificou. Sucedeu-se uma grande polêmica, como explica o especialista.
“Tem uma rivalidade na França desde o século 19, pelo menos, entre duas famílias, Orleans e Bourbon. As duas querem recuperar o trono da França. Como a cabeça foi devolvida ao patriarca dos Bourbon, a família Orleans decretou que a cabeça era falsa. Por ciúme, desprezo, enfim…”
A equipe de Charlier também recebeu críticas da extrema-esquerda, conta o legista, quando trabalhou na mascara mortuária de Robespierre. Ele conta que foi acusado de ser um “embaixador do feudalismo burguês” e de “manchar a herança da Revolução Francesa”, por ter reconstituído o rosto do líder revolucionário com cicatrizes, marcas de doenças e outros detalhes que “diminuíam” Robespierre. “Acreditamos que são personagens históricos, mas são personagens políticos”, diz Phillippe.
Além dos personagens históricos, o médico-legista também se interessa, como ele mesmo diz, por múmias desconhecidas e divindades e trabalha no museu do Quai Branly, em Paris. Em 2015, lançou um livro sobre os zumbis do Haiti, e no início de 2019 viaja para Salvador, na Bahia, estudar as mães de santo.
De onde vem essa fascinação pela morte do Indiana Jones francês? Ele diz ter começado a se interessar pela arqueologia desde muito cedo, aos seis anos, quando encontrou um esqueleto de toupeira no jardim, da família, em Meaux, na região parisiense.
Filho de uma farmacêutica e de um médico – aliás, os descendentes são médicos há varias gerações-, aos 12 anos ele descobriu seus primeiro esqueleto em um sítio arqueológico, onde foi autorizado a entrar pela equipe. “O que me interessa é a maneira como os homens tentaram domina-la. Eu me interesso mais pelos ex-vivos do que pelos mortos.”
Em um prédio escondido do 3° distrito de Paris, cerca de 50 engenheiros, técnicos e especialistas em robótica trabalham em um projeto ambicioso: fazer com que paraplégicos, pessoas que sofreram paralisia dos membros inferiores, voltem a andar.
Criada em 2012 por três estudantes de engenharia, a start-up francesa Wandercraft desenvolve um exoesqueleto que vai possibilitar a locomoção de pessoas que perderam o movimento dos membros inferiores, mas também idosos ou pacientes que sofrem de doenças degenerativas, como esclerose múltipla. Para isso, eles contam com um capital de € 15 milhões oriundos de diferentes fundos de investimento franceses.
A vontade de criar um projeto que traria benefícios para a humanidade foi o que impulsionou e inspirou os fundadores da Wandercraft, como resume um deles, Alexandre Boulanger. “Eu procurava um projeto que me desafiasse em termos técnicos e tecnológicos, que tivesse sentido e que fizesse com que eu me sentisse de fato útil. Um dos meus sócios, Nicolas, propôs esse projeto. Ele tinha pessoas na família que podiam se beneficiar desse avanço. Pensei: é isso que quero fazer!”.
O equipamento da Wandrecraft, batizado de Atalante, está passando por testes clínicos internamente e vai receber sua certificação ainda neste ano. A primeira versão, criada para ser usada em programas de reeducação em hospitais, está praticamente pronta e foi produzida no laboratório da própria empresa. Pela primeira vez, um centro especializado em Clermond Ferrand, no centro da França, testará o protótipo durante dois anos, para provar quais benefícios ele traz para os pacientes paraplégicos.
Na verdade, estar permanentemente sentado induz a outros tipos de patologias digestivas, cardíacas ou circulatórias. Problemas que o exosqueleto poderá ajudar a solucionar, e que justificará que o custo do equipamento possa ser reembolsado em parte pela Seguridade Social Francesa e pelos planos de saúde.
Exoesqueleto terá versão "caseira"
Até 2020, a empresa também deve lançar uma versão mais leve do Atalante para ser usada em casa, feita sob medida para cada usuário. A ideia, no início, não é substituir totalmente a cadeira de rodas, mas dar a possibilidade aos paraplégicos de subir escadas, dirigir um carro ou circular dentro de um avião, por exemplo. E o que explica uma das representantes da empresa, Floriane Vintras, contratada depois de testar o equipamento.
“Quando as pessoas estão há muitos anos em uma cadeira de rodas, é difícil mudar os hábitos. O exoesqueleto servirá para dar continuidade à reeducação em um centro. Depois os pacientes saem dos hospitais e não podem mais fazer os mesmos exercícios. Os esforços acabam perdidos. O objetivo, então, é continuar essa reeducação. O que acaba trazendo mais autonomia porque a pessoa poderá ir comprar seu pão se a padaria não for acessível, por exemplo. Poderemos também passear na rua, normalmente, com um exoesqueleto”.
O exoesqueleto “caseiro” ainda está sendo desenvolvido pela equipe, que deve criar uma versão mais leve do equipamento. O custo deverá ser equivalente ao de um carro de luxo, diz Floriane. Uma das grandes inovações do aparelho é que ele não necessita de muletas e proporciona uma marcha dinâmica, não parecida com a de um robô. O usuário também é totalmente autônomo e pode passar horas dentro do equipamento sem sentir nenhum desconforto, dirigindo os movimentos com um controle remoto.
Floriane, funcionária da Wandercraft, testou ela mesma uma antiga versão do Atalante e conta como foi seu teste. A jovem cadeirante sofre de poliartrite e há dois não ficava de pé. Floriane participou de um dos primeiros testes clínicos do Atalante. “Os primeiros passos foram muito impressionantes. Eu me senti alta, e me senti bem de estar na mesma altura do que todo mundo”, diz. Ela afirma que não precisou de ajuda para se levantar, não sentiu cansaço ou desconforto. Depois desse teste, deixou sua cidade, Lyon, para trabalhar na start-up a convite dos fundadores.
A RFI Brasil visitou o laboratório da Wandercraft, onde são realizados os testes clínicos. A técnica Marine Petriaux trabalha com o design dos movimentos do Atalante, e verifica que eles estejam sendo bem executados e equilibrados. Ela conta que resultados dos testes realizados recentemente são otimistas. “Acabamos de começar, mas temos um retorno positivo”, diz.
Algoritmos preditivos antecipam movimentos
Dentro do exoesqueleto, um pequeno computador comanda um software que antecipa os movimentos do busto da pessoa que está no comando do equipamento. Os algoritmos preditivos, codificados pelos membros da equipe gerenciam dados estocados nos servidores da empresa, e se adaptam a cada paciente em função do peso, tamanho ou outras variáveis.
Matthieu Masselin, 29 anos, CEO da Wandercraft e um dos fundadores da empresa ao lado de Nicolas Simon e Alexandre Boulanger, explica os desafios técnicos que seus especialistas em robótica enfrentam no dia a dia. Segundo ele, muitas simulações são feitas antes da realização dos testes com paraplégicos. “Temos um computador dentro do exoesqueleto e temos servidores que fazem cálculos. Tiramos as medidas de cada pessoa que vai entrar no equipamento e estocamos em nossos servidores. Os dados são mantidos sob anonimato”, explica.
“Nossos algoritmos trabalham esses dados e enviam tudo para o exoesqueleto, que recebe e executa em função do que foi programado. O funcionamento é uma mistura do que já foi codificado pelos engenheiros de computação e do que acontece em tempo real no exoesqueleto. Essa complementaridade faz parte do “know-how” da Wandercraft, porque rapidamente podemos adaptar nosso sistema a um novo usuário”, explica o presidente da empresa. A equipe agora aperfeiçoa o software para que essa adaptação e antecipação da intenção do movimento sejam mais precisas.
Antes restrita aos hospitais, a terapia virtual agora poderá ser feita em casa com a popularização dos equipamentos e o lançamento de novos softwares. É o que mostra o livro dos psiquiatras franceses Eric Malbos, Christophe Lançon e Rodolphe Oppenheimer "Se libérer des troubles anxieux par la réalité virtuelle" (Livrando-se da ansiedade através da realidade virtual, em tradução livre).
O psiquiatra francês Eric Malbos sempre se interessou pela maneira como os videogames poderiam ajudar seus pacientes a vencerem suas fobias, vícios e doenças mentais, como, por exemplo, a ansiedade crônica, a depressão e o estresse pós-traumático. Ainda na faculdade de Medicina, o pesquisador criou e programou softwares que simulam diferentes “ambientes virtuais”. Quem tem medo de avião, por exemplo, trata o problema como se estivesse dentro de uma aeronave.
O objetivo é enfrentar os medos até obter a cura, como explica o psiquiatra, que desde 2012 dirige um setor especializado nesse tipo de tratamento no hospital da Concepção, em Marselha. Em toda a França, cerca de 30 estabelecimentos utilizam a técnica, entre eles o conceituado hospital Pitié-Salpetrière, em Paris.
A novidade agora é que esse tratamento, que necessitava de um acompanhamento hospitalar, poderá ser feito em casa. Isso graças à popularização dos headsets, equipados com os óculos 3D, que estão cada vez mais baratos e acessíveis ao consumidor, e também ao aperfeiçoamento do software de Eric Malbos por empresas especializadas. Os novos programas chegam ao mercado em agosto.
“Dentro de alguns meses, serão lançados programas que simulam esses ambientes virtuais com exercícios que poderão ser feitos em casa. Os pacientes poderão comprá-los. Atualmente, apenas profissionais da saúde podem adquirir os programas”, explicou o psiquiatra francês à RFI.
O livro lançado pelo psiquiatra, dessa forma, servirá como um guia para o paciente. O objetivo é que ele se torne autônomo em seu tratamento, depois do diagnóstico ser feito por um especialista, que também deve acompanhá-lo periodicamente. “O contato com um terapeuta comprensivo e atento é muito importante. Esse tratamento é complementar, não pode ser feito somente em casa. Por isso que aconselhamos a consulta com um terapeuta e um acompanhamento paralelo”, diz.
Evitando os medicamentos
Um dos objetivos da terapia 3D é de evitar o uso de medicamentos – a maior parte antidepressivos e ansiolíticos que modificam o sistema nervoso central e, mesmo sendo úteis em alguns casos, geram efeitos colaterais e até dependência a longo prazo. De acordo com médico francês, apenas entre 10 e 20% dos seus 50 pacientes precisam de remédios, que são usados como complemento da terapia virtual. Mais de 1100 pessoas já beneficiaram da nova técnica na França, adotada por mais de 300 profissionais.
Empresas na França, Estados Unidos e Canadá já estão comercializando os programas em outros países, o que leva a crer que a nova tecnologia se expande rapidamente e em breve pode chegar ao Brasil. “ A empresa francesa CytoCare está começando a exportar o produto para o exterior, principalmente para a Espanha, mas também em Portugal. O fato de que o programa esteja traduzido em português me leva a crer que ele logo estará disponível também para os psicólogos e psiquiatras brasileiros”, diz.
O psiquiatra lembra que vários problemas mentais podem ser tratados com o desenvolvimento e softwares mais sofisticados de terapia virtual, como a anorexia ou a bulimia e a dependência ao álcool e ao cigarro. O vício da heroína em breve poderá da mesma maneira. O especialista francês também diz que continuará desenvolvendo diferentes pesquisas nos hospitais, uma delas com o tratamento do estresse pós-traumático de soldados.
Facebook virou coisa de velho? Lançada oficialmente em 2012, a rede social mais popular do mundo, que no fim de 2017 contava com 2 bilhões e 130 milhões de usuários, parece interessar cada vez menos os jovens entre 18 e 24 anos e é considerada ultrapassada para os adolescentes.
É o que indica um estudo publicado no ano passado pela empresa americana especializada em webmarketing e-Marketer. Os dados mostram que o site criado por Mark Zuckerberg perdeu 3,4% dos usuários entre 12 e 17 anos. De acordo com essas pesquisas, os millenials preferem a rede de fotos Instagram (que pertence ao Facebook) e mais ainda o Snapchat, plataforma de compartilhamento de fotos e vídeos. Nos Estados Unidos, em 2017, com 40,2 milhões de inscritos, o Snapchat se tornou oficialmente mais popular do que o Facebook entre os jovens de menos de 24 anos, o alvo preferido dos publicitários.
A empresa de Zuckerberg tentou adquirir o Snapchat em 2013, quando o aplicativo ainda era desconhecido. A oferta de US$ 3 bilhões não seduziu o criador da plataforma, Evan Spiegel, que recusou a proposta. Qual a razão desse sucesso? Um deles é o fato de que a novíssima geração privilegia a interatividade visual e a interface mais adaptada aos dispositivos móveis, menos presente no Facebook do que em seus concorrentes. Além disso, a presença da família na rede desestimula os adolescentes, que preferem terrenos menos minados para trocar suas experiências.
Segundo Pierre Olivier Cazenave, especialista em redes sociais e criador do Social Media Club, grupo francês de discussões sobre o uso e a evolução das plataformas digitais, o envelhecimento dos usuários do Facebook não indica, entretanto, uma perda de força da rede social, que captura outras audiências com essa tendência. Além disso, globalmente, a queda da utilização entre os jovens pode ser considerada irrelevante.
“Todo mundo se preocupa um pouco, dizendo que esse pode ser o fim do Facebook, que a perda de influência entre jovens é um sinal de declínio. Faço uma leitura diferente. Os jovens não estão desaparecendo da plataforma. Eles passam menos tempo. E quando eles entram no site, já que eles mantêm a conta ativa, é para se comunicar, inclusive com os membros da família. Facebook se transformou, então, em uma plataforma que reúne várias gerações, que interage de maneira fluida. As relações familiares beneficiam da experiência no Facebook, que, originalmente, havia sido elaborado para atrair um público mais jovem”, diz.
O especialista em inovação digital Juliano Kimura, autor de “O Livro Secreto das Redes Sociais”, vai além. Consultor de diversas empresas, inclusive do próprio Facebook, ele questiona os resultados das pesquisas que apontam para essa debandada jovem. “Questiono a base com as quais as informações foram adquiridas, porque a informação mais confiável que pode ser encontrada na Internet é a informação da própria base, que chamamos de informação nativa, que as pesquisas normalmente não utilizam”, observa.
Surfando na tendência
O especialista francês Pierre Oliver Cazenave explica que o Facebook, basicamente, tem dois alvos: os usuários, que possibilitam o acúmulo de audiência na plataforma, e consequentemente, sua monetização. O segundo alvo da rede social são os anunciantes. Em termos de publicidade, o site é um colosso, observa. Sozinhos, Google e Facebook abocanham uma fatia de mais de 70% do mercado mundial.
Para manter essa liderança, um dos objetivos apresentados na conferência anual da rede foi o de “limpar” a plataforma, que se transformou em uma fonte de falsas informações e um território de “haters” das mais variadas cores, credos, raças e religiões. Uma deriva que preocupa Zuckerberg, decidido a virar o jogo. A ideia é justamente favorecer a troca entre famílias e amigos, trabalhando para que o algoritmo privilegie essas publicações em sua timeline, em detrimento dos conteúdos patrocinados e engajados, que levaram a plataforma a ter um papel decisivo em eventos como, por exemplo, a Primavera Árabe.
Essa decisão não coloca em risco a presença dominante no mercado publicitário. Ao contrário, privilegia a experiência do usuário para evitar que ele perca o interesse pelo site, e também para evitar que os jovens fechem definitivamente suas contas. Um dos exemplos é a adoção da ferramenta Story, inspirada no Instagram e no Snapchat, que mostra 24 horas na vida do usuário, pontuada por fotos e vídeos. A máxima “se o serviço é de graça, você é o produto”, se aplica como nunca.
“É interessante perceber a capacidade das plataformas de desenvolver produtos que possibilitam se adaptar aos usuários. Facebook lança novas ferramentas a cada três ou seis meses”, diz Kimura. A capacidade da plataforma de se renovar e de individualizar a experiência de cada membro através de seus potentes algoritmos, também leva Juliano Kimura a crer que essa rede social está longe de perder sua influência. “O Facebook é responsivo ao comportamento do usuário. Nunca ninguém terá um Facebook igual ao outro”.
Em Toulouse, no sul da França, o CNES (Centro Nacional de Pesquisas Espaciais) mantém um programa que analisa as relações entre o clima, o meio-ambiente e a saúde, com o objetivo de prevenir e antecipar epidemias, utilizando dados fornecidos por satélites de observação que transitam em diferentes órbitas.
A RFI Brasil conversou com uma das responsáveis do estudo, Cécile Vignoble, sobre como a tecnologia espacial pode ser usada na luta contra diversas doenças, incluindo a Dengue, o Zika e outras patologias respiratórias, ligadas à poluição.
Os satélites fornecem dados sobre o tipo de vegetação, temperatura, índices pluviométricos e umidade em uma região, que permitem antecipar o aparecimento de doenças em nível local. Isso graças a uma ferramenta conhecida como cartografia preditiva, que calcula, por exemplo, a quantidade de Aedes Aegypt, o mosquito transmissor da Dengue, existente na região.
Na entrevista, a especialista francesa também fala sobre os projetos de expansão do programa na França e no exterior, inclusive no Brasil, onde o instituto francês tem uma parceria de longa data com o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais).
RFI: Qual o objetivo desse programa e da utilização dos dados dos satélites?
Cécile Vignolle: O que tentamos mostrar é a relação que existe entre a emergência e a propagação de certas doenças e as mudanças climáticas e ambientais, utilizando a tecnologia espacial e os satélites de observação da Terra. O que é recente no conceito estabelecido pelo CNES e seus parceiros é a colaboração direta com profissionais locais de saúde pública. A ideia é criar produtos espaciais que podem ser usados nesse tipo de monitoramento e na luta contra os vetores, como os mosquitos que provocam certas doenças. Queremos otimizar essas ações de luta e prevenção, para coloca-las em prática em seguida.
Quais são os modelos de prevenção que podem ser criados a partir desses dados espaciais?
Eles são de dois tipos. Podem ser mecânicos - um modelo que já usamos, por exemplo, na ilha da Reunião. A ideia agora é ver se podemos adaptar esse modelo a ecossistemas que são diferentes, como os das metrópoles. Três cidades “pilotos” foram escolhidas pela DGS (Direção Geral da Saúde, organismo francês com quem o CNES fechou recentemente um acordo): a região de Bordeaux, Montpellier, e Grenoble, onde o mosquito Aedes aegypti, que transmite a Dengue, está presente. Se o projeto funcionar, vamos adaptá-los às regiões ultramarinas, como Guiana, Martinica ou Guadalupe. Mas esse modelo não pode ser aplicado para todas as doenças. Neste caso, usamos o chamado modelo estatístico. Calculamos um certo número de variáveis, a partir dos dados dos satélites. A partir daí, vemos quais dados estão relacionados à presença de certos vetores.
Quais são as principais doenças que podem ser combatidas com essa tecnologia?
Nossos estudos abrangem a Dengue, o Paludismo e a febre do vale Rift, no leste da África. Também trabalhamos com produtos ligados à poluição atmosférica e a meningite, presente no Sahel, cuja disseminação está ligada a algumas partículas presentes na atmosfera. Tentamos detectá-las e construir o que chamamos de “indicador” de presença de poluição, para estabelecer essa relação com doenças. Também damos apoio a um estudo sobre as doenças respiratórias agudas provocadas por poluentes atmosféricos.
Existe uma parceria com o Brasil, onde atualmente há uma epidemia de febre amarela e a Dengue é um problema de saúde pública?
Atualmente, o CNES apoia uma equipe francesa que trabalha com o Brasil em doenças como a Dengue e o Zica. Eles tentam, justamente ver qual seriam os indicadores no meio-ambiente que poderiam estar ligados à emergência dessas doenças. Pesquisas estão sendo realizadas, e há parcerias entre o INPE (Instituto Nacional de pesquisas espaciais) e o IRD (Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento), cuja objetivo é justamente trabalhar com os países do sul. A colaboração com o Brasil é antiga.
E um monitoramento para controlar a febre amarela, seria possível?
A febre amarela continua sendo um problema saúde pública, mas como existe uma vacina, há uma solução. No caso das outras doenças, não há uma vacina, apenas tratamento dos sintomas e a prevenção. A ideia da autoridades de saúde pública é justamente alertar a população e os profissionais da saúde suficientemente cedo quando detectamos que há fatores favoráveis à emergência dos vetores que provocam a doença e e à emergência da própria doença. A presença dos mosquitos não indica necessariamente a existência da doença, mas é impossível ter a doença sem o mosquito.
A tela invadiu o cotidiano das crianças em todo o mundo. Na França, estima-se que os menores de 4 a 14 anos passem em média 3 horas por dia na frente da TV, do tablet ou do telefone celular.
Crianças cada vez mais novas têm acesso às novas tecnologias que influenciam a cognição e desenvolvem novas capacidades motoras. Quem nunca ficou espantado com um bebê que já sabe utilizar seus dedos para acessar conteúdos em um celular?
Os novos hábitos e habilidades levaram os fabricantes a criarem brinquedos conectados cada vez mais sofisticados, adaptados às novas gerações. Equipados de Wi-fi e Bluetooth, eles interagem com as crianças e perambulam pela casa, como verdadeiros companheiros eletrônicos.
Alguns desses jogos, entretanto, escondem um perigo real: falhas de segurança que permitem estocar informações pessoais, das mais variadas. Diversas associações europeias alertam sobre o risco que robôs e bonecas inteligentes representam, vulneráveis inclusive à pirataria cibernética.
No início do mês, dois casos vieram à tona na França, o que levou a Cnil, a Comissão Nacional de Informática e Liberdade, órgão francês que regula a circulação de dados pessoais na rede, a ameaçar de multa a empresa Genesis Industries, de Hong Kong, fabricante da boneca Cayla e do robô i-Que.
Depois de uma denúncia feita pela associação francesa UFC-Que Choisir, especializada no direito do consumidor, a comissão concluiu que os dois brinquedos tinham uma falha grave de segurança que expunha as crianças e suas famílias.
A boneca e o robô gravavam as vozes dos menores, as conversas com os pais, além de estocar outros dados fornecidos durante a instalação do produto. A empresa terá agora dois meses para provar que respeitará a lei francesa, que estipula que a privacidade é um direito fundamental.
Proibição na Alemanha
A venda da boneca e do robô já foram proibidos pelas autoridades alemãs, que também suspenderam a comercialização de relógios conectados infantis, com geolocalização. A jurista da associação UFC-Que Choisir, Justine Massena, explica como a questão veio à tona na França.
“Fomos alertados pela associação norueguesa de consumidores. Todas as associações europeias, aliás, foram alertadas. Eles testaram em laboratório três brinquedos conectados: a boneca Cayla, o robô i-Que e duas Barbies, que não são vendidas na Europa. Nesses testes eles perceberam que havia falhas na segurança do Bluetooth integrado nesse jogo, e nos dados coletados e na utilização desses dados. Eles eram enviados para os Estados Unidos e revendidas em seguida para fins comerciais”, explica a representante da associação.
Em seguida, a associação entrou com um recurso junto ao Cnil e à Direção Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão de Fraudes, ligada ao Ministério da Economia. Esses procedimentos, entretanto, não são suficientes para interromper a comercialização de um objeto.
Quais recursos jurídicos existem na França para proteger as crianças? A advogada francesa Caroline Laverdet, especialista em direito digital, explica que a comercialização de jogos e brinquedos não está submetida a uma autorização prévia. O fabricante deve apenas informar a Cnil se estoca dados sensíveis, que envolvem saúde, por exemplo.
A advogada lembra que os fabricantes devem informar para onde os dados são enviados e quais são os direitos dos consumidores. "Eles também têm a obrigação de blindar, em termos de segurança, as informações coletadas, para evitar a pirataria, que infelizmente acontece com frequência", diz.
O consumidor também deve ser avisado se houver transferência dos dados para outros países da União Europeia. Os usuários também tem o direito de se opor à utilização das informações. No caso dos jogos conectados, por exemplo, os pais podem pedir a extinção de todas os dados coletados sobre seus filhos.
"É preciso escrever para o fabricante e se não houver resposta em um prazo de dois meses, podemos entrar com uma ação nos tribunais e junto à Cnil. Deve-se levar em conta o fato que ignorar a oposição do uso dos dados é uma infração penal e passível de sanção", afirma.
Novo regulamento europeu
Para facilitar as sanções contra os abusos de empresas que fabricam esse tipo de brinquedo, a União Europeia adotará a partir de 25 de maio de 2018 um novo regulamento, um texto que será aplicado em todo o bloco. A lei francesa se adaptará a essa nova regulamentação, que garantirá uma melhor proteção da privacidade dos usuários e de suas informações pessoais.
As multas, dependendo da infração, serão estipuladas entre € 10 e 20 milhões, e para as empresas, entre 2 e 4% do volume de vendas mundial. Na nova legislação, a proteção da privacidade das crianças também será reforçada e as empresas deverão informar os usuários menores de 16 anos, de maneira simples, como serão tratadas suas informações pessoais. Um dos pais deverá autorizar o uso do objeto.
Para a advogada francesa, o melhor é evitar a aquisição de objetos conectados antes dos 10 anos. "É preciso se conscientizar que, adquirido um brinquedo desses, você aceita de antemão que as informações das crianças sejam compartilhadas".
Os pais, diz, devem se informar sobre o tipo de dado que será recuperado pelo objeto e quem terá acesso esses dados. Ela também recomenda que os pais verifiquem a existência de um botão no brinquedo para ativar o Bluetooth, para que nenhuma pessoa possa ligar o dispositivo utilizando outra conexão.
A segurança dos brinquedos conectados também é motivo de preocupação nos Estados Unidos, onde o FBI alertou recentemente sobre falhas potenciais, obrigando várias empresas a interromperem fabricação de vários objetos.
Em outubro, a fabricante americana Mattel desistiu de vender um speaker capaz de reconhecer o choro de uma criança e ensinar um novo idioma, depois da divulgação de uma petição assinada por 15 mil pessoas. A empresa já havia sido alvo de críticas ao lançar, em 2015, uma Barbie interativa, capaz de discutir com uma criança e compreender seus interesses.
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