Ilustríssima Conversa

Folha de S.Paulo

A equipe de jornalistas da Ilustríssima, da Folha, entrevista autores de livros de não ficção ou de pesquisas acadêmicas.

  • 54 minutes 5 seconds
    Pedro Arantes: PT virou unidade de política pacificadora

    A imagem de uma multidão rumando às sedes do poder para derrubar um regime político não era, até pouco tempo atrás, uma fantasia da direita. Rebeliões desse tipo foram uma utopia da esquerda desde, pelo menos, a Revolução Russa. A invasão do Capitólio e o 8 de Janeiro escancaram, nesse sentido, uma grande transformação simbólica.

    As sucessivas inversões entre direita e esquerda, ordem e desordem e pacificação e insurgência na história brasileira recente são o fio condutor de "8/1: a Rebelião dos Manés" (Hedra), de Pedro Arantes, Fernando Frias e Maria Luiza Meneses.

    Arantes, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e convidado deste episódio, defende que as forças progressistas devem levar a sério as propostas e as ações da extrema direita brasileira.

    Para ele, o 8 de Janeiro é uma oportunidade para a esquerda refletir sobre seus rumos recentes —em uma conjuntura de perda de vitalidade e conformação em administrar uma ordem precária e desigual.

    Na entrevista, o pesquisador aborda as prisões e as condenações de participantes do 8 de Janeiro. Para Arantes, Alexandre de Moraes e o STF estão subindo a régua do punitivismo, o que instaura um controle totalitário sobre iniciativas de contestação social que se abate tanto sobre golpistas de direita quanto sobre movimentos de esquerda.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    4 May 2024, 9:00 am
  • 43 minutes 59 seconds
    Monica Benicio, viúva de Marielle: Prisões não encerram luta por justiça

    Pouco mais de seis anos depois do assassinato de Marielle Franco, a Polícia Federal prendeu no fim de março o deputado federal Chiquinho Brazão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil fluminense.

    Esse desfecho, porém, não deve ser visto como o fim do movimento de luta por justiça por Marielle Franco e Anderson Gomes, diz Monica Benicio, viúva da vereadora.

    Para ela, que hoje também ocupa uma cadeira na Câmara Municipal do Rio pelo PSOL, as investigações precisam continuar para apurar a eventual participação de outras pessoas no caso. Benicio defende, por outro lado, que o clamor pela elucidação do crime se desdobre em um projeto de futuro —de combate às desigualdades e às opressões de gênero, orientação sexual e raça.

    Ela acaba de lançar "Marielle & Monica: uma História de Amor e Luta", obra que apresenta um relato íntimo do relacionamento entre elas. Benicio expõe os altos e baixos de uma relação intensa e o sofrimento depois do assassinato de Marielle, período em que enfrentou depressão, alcoolismo e diz ter encontrado no engajamento político e na escrita das memórias da sua vida com Marielle caminhos para elaborar seu luto.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    20 April 2024, 9:00 am
  • 47 minutes 5 seconds
    Carlos Fico: O que separa o discurso bolsonarista da propaganda da ditadura

    Mesmo quem nasceu depois do fim da ditadura provavelmente tem na cabeça alguns dos slogans ou das canções criados pelo regime militar. "Este é um país que vai pra frente" e "Brasil: ame-o ou deixe-o" continuam ecoando quase 40 anos depois da redemocratização, o que indica que a propaganda teve êxito em seus objetivos.

    Para Carlos Fico, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), isso se deve, sobretudo, à forma como a ditadura militar mobilizou um imaginário nacional muito arraigado: a visão otimista que concebia o Brasil como um país destinado à grandeza.

    O historiador acaba de lançar uma nova edição de "Reinventando o Otimismo", livro que examina como a ditadura mobilizou os discursos otimistas sobre o Brasil para criar uma propaganda que parecia despolitizada.

    Neste episódio, Fico afirma que as campanhas do regime encapsulavam a ideia, dominante entre os militares, de que a sociedade brasileira precisava ser tutelada pelas Forças Armadas para que o país pudesse se desenvolver.

    O autor também compara a utopia da ditadura, que imaginava um futuro brilhante para o Brasil, e os discursos atuais do bolsonarismo e da extrema direita, centrados na restauração dos valores de um passado visto com nostalgia.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Laila Mouallem e Raphael Concli

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    6 April 2024, 9:00 am
  • 43 minutes 55 seconds
    Fernando Pinheiro: Como Clarice Lispector e Paulo Coelho forjaram suas imagens literárias

    Uma obra literária, diz Fernando Pinheiro, professor de sociologia da USP, pode ser entendida como a soma do texto escrito e da imagem do seu autor —e a forma como os escritores se projetam tem forte influência sobre a posição que conseguem alcançar no sistema literário.

    No recém-publicado "O Mago, o Santo, a Esfinge", Pinheiro se concentra nas representações de Paulo Coelho, Manuel Bandeira e Clarice Lispector. Os ensaios reunidos no livro analisam como os autores se tornaram personagens distintos da literatura brasileira.

    Neste episódio, o pesquisador discute por que Paulo Coelho, mesmo tendo vendido mais de 300 milhões de cópias em todo o mundo, nunca ultrapassou uma condição marginal no campo literário do país.

    Pinheiro também explora como Clarice Lispector, por outro lado, conseguiu manejar um aparente paradoxo: se transformar em esfinge, considerada até hoje uma escritora indecifrável e, ao mesmo tempo, recusar a figura de intelectual, afirmando, por exemplo, que não gostava de ler e que escrevia crônicas para se sustentar.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    16 March 2024, 9:00 am
  • 52 minutes 17 seconds
    Mauricio Stycer: Como Gilberto Braga mudou as novelas no Brasil

    Poucos nomes marcaram tanto a telenovela no Brasil quanto Gilberto Braga. Nas quatro décadas em que escreveu para a TV, criou grandes sucessos, abordou temas que se tornaram discussões nacionais e cativou intelectuais como nenhum outro colega de profissão. Também trouxe uma sensibilidade diferente para o gênero, com um olhar mais sofisticado para o mundo dos ricos e das classes médias.

    A trajetória do escritor é tema da biografia "Gilberto Braga: O Balzac da Globo" (ed. Intrínseca), escrita por Mauricio Stycer. "A obra dele tinha características que permitiam fazer essa alusão a Balzac", comenta o biógrafo, jornalista especializado em TV e colunista da Folha.

    Na entrevista ao Ilustríssima Conversa, Stycer fala sobre essa trajetória e como Gilberto Braga e outros autores fizeram da novela o grande produto audiovisual brasileiro.

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    2 March 2024, 9:00 am
  • 42 minutes
    Noemi Jaffe: Literatura precisa perturbar o leitor

    A escritora Noemi Jaffe se inspirou em sua experiência como professora de escrita de ficção para compor seu mais recente livro, "Escrita em Movimento: Sete Princípios do Fazer Literário".

    Noemi encara a escrita como um longo processo de aprendizagem que nunca tem fim, por mais consagrado que seja um autor. E a autora também não acredita em regra rígidas ou fórmulas engessadas para a criação.

    No lugar disso, Noemi apresenta sete princípios que, a seu ver, são comuns aos bons textos literários: palavras, simplicidade, consciência narrativa, originalidade, estranhamento, detalhes e experimentação.

    Neste episódio, ela comenta desde questões mais práticas a outras mais literárias e teóricas. "Tem muito esse pensamento de que a arte deve distrair, e eu acho contrário. Acho que a arte precisa contrair, sei lá, deixar a pessoa mais incomodada, deixar a pessoa perturbada. Grande parte da boa literatura é sobre coisas ruins mesmo, sobre coisas difíceis de enfrentar" reflete.

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    17 February 2024, 9:00 am
  • 55 minutes 57 seconds
    Guilherme Varella: Carnaval de rua não é bagunça, é direito constitucional

    O Carnaval de rua de São Paulo, cidade tantas vezes chamada de túmulo do samba, despertou nos últimos dez anos. Antes acanhada, a festa viu o número de blocos e foliões se multiplicar —e o interesse de patrocinadores aumentou, como também cresceram os conflitos com moradores e episódios de repressão policial.

    Guilherme Varella foi um dos coordenadores da política para o Carnaval de rua de São Paulo desenhada a partir de 2013, na gestão Fernando Haddad (PT). Em sua tese de doutorado, agora publicada em livro, ele analisa as balizas, as disputas e os resultados dessa política pública.

    Hoje professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Varella propõe em "Direito à Folia" que a ocupação de ruas e espaços públicos por blocos é um direito constitucional, que deve ser viabilizado pelo Estado, não domesticado ou reprimido.

    Neste episódio, ele fala sobre os significados históricos e políticos do Carnaval de rua e discute algumas das tensões que cercam essa manifestação cultural, como o crescimento dos megablocos e as ameaças representadas pela "ambevização", do seu ponto de vista, à preservação do espírito transgressor do Carnaval.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    3 February 2024, 9:00 am
  • 46 minutes 16 seconds
    Christian Dunker: Psicanálise deve descer do pedestal para dialogar com críticos

    No ano passado, houve uma reação intensa ao enquadramento da psicanálise como pseudociência em "Que Bobagem!", livro de Natalia Pasternak e Carlos Orsi.

    A contenda motivou Christian Dunker, professor da USP, e Gilson Iannini, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a escrever o livro-resposta "Ciência Pouca É Bobagem: Por Que a Psicanálise Não É Pseudociência", publicado em dezembro.

    O trabalho parte das críticas à psicanálise que vieram à tona para discutir, de forma mais ampla, a cientificidade e a eficácia do campo psicanalítico.

    Dunker e Iannini investem em três frentes para se contrapor à conceituação da psicanálise como pseudociência. Os autores apresentam evidências para sustentar que a psicanálise tem resultados clínicos, afirmam que uma crença estreita no cientificismo guia parte dos críticos e defendem que as bobagens, vistas como expressões sem significado em outras áreas do conhecimento, são essenciais na escuta psicanalítica.

    Dunker, convidado deste episódio, não faz, por outro lado, uma defesa cega de seus colegas: em sua avaliação, psicanalistas brasileiros se acostumaram a habitar um condomínio elitista, se recusam a dialogar com profissionais de outros campos e justificar suas práticas e precisam descer do pedestal para enfrentar a transformação que a psicanálise deve sofrer nos próximos anos.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    20 January 2024, 8:00 am
  • 47 minutes 20 seconds
    Rodrigo Nunes: Política pode ser vista como ecologia

    Rodrigo Nunes, professor da Universidade de Essex, no Reino Unido, se debruça em seu livro mais recente sobre os grandes dilemas da organização política, que tem oscilado, nas últimas décadas, entre perspectivas mais verticais ou mais horizontais, mais ou menos centralizadas, mais hierarquizadas ou mais autonomistas.

    Em "Nem Vertical Nem Horizontal", o autor defende que não faz sentido pensar em uma forma ideal de mobilização política: as dinâmicas de organização são contingentes historicamente e, para Nunes, a transformação social depende da articulação de atores políticos com escalas de ação, estratégias e objetivos diversos, muitas vezes conflitivos.

    Neste episódio, o pesquisador discute as linhas gerais do argumento da obra, publicada originalmente em 2021, como a ideia de que a organização está em toda parte e que a política pode ser entendida como uma ecologia —uma trama que faz com que todos os sujeitos políticos sejam interdependentes e que nenhum deles consiga olhar a realidade social de fora dela.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    9 December 2023, 9:00 am
  • 35 minutes 42 seconds
    Autora fala de livro sobre Mengele, nazista que se escondeu no Brasil

    Josef Mengele, médico que torturou e matou milhares de pessoas em Auschwitz, levou uma vida pacata no Brasil nos anos 1960 e 1970.

    Depois da queda de Hitler, Mengele se instalou na Argentina de Perón, fugiu em seguida para o Paraguai e, por fim, chegou ao Brasil, onde contou com uma rede de amigos leais para protegê-lo e alguns golpes de sorte que evitaram que fosse capturado.

    Sua identidade foi preservada mesmo depois da sua morte. Mengele se afogou em uma praia em Bertioga em 1979 e foi enterrado com um nome falso em Embu das Artes. A história do fugitivo nazista no Brasil só foi descoberta seis anos depois, causando furor no país e no exterior.

    Betina Anton, jornalista da Globo e autora de "Baviera Tropical", tinha seis anos quando a sua professora não apareceu mais na escola. Anton descobriu, anos depois, que ela havia sido uma das responsáveis por dar guarida a Mengele, e desse entrecruzamento surgiu a ideia de esquadrinhar os anos do médico nazista no Brasil.

    Neste episódio, a autora fala sobre as fontes de pesquisa de seu livro, os experimentos de Mengele com prisioneiros do campo de concentração e os riscos da extrema direita e de ideologias racistas, que ainda persistem.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Laila Mouallem

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    25 November 2023, 9:00 am
  • 32 minutes
    Marcelo Medeiros: Desigualdade de gênero e raça vai muito além de questão identitária

    Marcelo Medeiros, professor visitante na Universidade Columbia, em Nova York, defende que toda política deve ser uma política de combate à desigualdade.

    Em "Os Ricos e os Pobres", o pesquisador expõe alguns contornos da gigantesca concentração de renda do Brasil: os 5% mais ricos da população se apropriam de metade do crescimento econômico do país, enquanto as pessoas entre os 50% mais pobres vivem com menos de R$ 30 por dia.

    No livro, o economista e sociólogo também aponta que os 80% mais pobres da população brasileira compõem um universo relativamente igualitário, enquanto o grupo dos mais ricos é muito heterogêneo, com grandes variações de renda.

    Neste episódio, Medeiros diz que não existe panaceia para reduzir os níveis de desigualdade no Brasil. Em sua avaliação, esse processo, de longo prazo, requer uma mobilização política de envergadura e vai esbarrar em resistências de grupos organizados.

    O pesquisador também discute a sobreposição de desigualdades de gênero, raça e renda no Brasil e afirma que tratar a discriminação de negros e mulheres no mercado de trabalho a partir da noção de política identitária é uma bobagem.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Laila Mouallem

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    11 November 2023, 9:00 am
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