Qual é o impacto das decisões das grandes empresas de tecnologia na sua vida? Goste ou não, Apple, Facebook, Google, Amazon e afins se tornaram tão poderosos que suas ações dão forma a como vivemos. Apresentado por Guilherme Felitti, o Tecnocracia é uma coluna quinzenal sobre as consequências de se viver sob o governo das grandes empresas de tecnologia.
Nota do editor Vamos usar o último episódio do Tecnocracia em 2024 para testar outro modelo de publicação, com a transcrição separada (e compatível com apps como Apple Podcasts e Spotify) e, na descrição, links e outros materiais citados pelo Guilherme. Conta pra gente o que você achou?
É comum a gente fazer planos e a vida acontecer. Existia um de terminar a sexta temporada do Tecnocracia com um episódio sobre cartórios — eu, inclusive, anunciei isso no episódio que você vai ouvir hoje —, mas o fim de ano foi mais agitado do que eu antevia. Para não terminar de supetão, resolvi republicar aqui uma entrevista que dei ao Gabs Ferreira no podcast dele, o Olá, Gabs — com o consentimento do Gabs, lógico.
O Gabs criou o podcast dele em 2023 e, em meio a tantos podcasts no mesmo formato “mesacast” e notícias da semana, ele resolveu seguir um caminho diferente — me orgulho de saber que o Tecnocracia foi uma das suas inspirações. Então se você gosta do Tecnocracia, ouça também o Gabs.
Na nossa conversa, eu falo da minha trajetória profissional, a ideia de montar uma empresa numa área sem qualquer experiência pregressa, a importância do timing e da sorte além do trabalho, o que significa trabalhar em uma empresa própria e a necessidade de descanso.
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Este é o terceiro episódio do Tecnocracia sobre a emergência climática. No episódio #78 demos uma pincelada geral no problema e no #84 falamos sobre como a humanidade usa energia, a principal razão para estarmos neste buraco. Dá para ouvir este episódio tranquilamente sem ouvir os outros, mas você aproveitará melhor as informações se ouvi-los em ordem.
Um resumo rápido do que estamos falando — repetição é nossa amiga quando trabalhamos com problemas urgentes:
O Tecnocracia #84, sobre como o uso de energia pela humanidade nos levou à emergência climática, terminou num climinha longe do otimista — talvez “enterro de gente querida” seja mais preciso. É uma sensação comum quando se discute o tema: no balanço entre notícias boas — a popularidade explosiva da energia solar, por exemplo — e notícias ruins, estas sempre deixam um impacto maior em nós. Pessimismo e o desânimo consequente não são bons pontos de partida para resolver um problema tão urgente quanto aparentemente insolúvel. Já foi pior, mas, nessa fatia do espaço-tempo que ocupamos, não é óbvio ser otimista com a questão climática. Há o que fazer, embora não para nos devolver de onde não deveríamos ter saído. Parece claro que o marco de 1,5º C acima da temperatura pré-industrial está contratado. Vai rolar, não tem como voltar atrás. Já estamos sofrendo as consequências. O que dá é se resignar e deixar de fazer o que for possível para evitar os próximos degraus e suas consequências nefastas.
No oitavo episódio da sexta temporada do Tecnocracia, a gente vai mapear o que eu, você ou qualquer pessoa preocupada com a emergência climática pode fazer. Vamos voltar algumas décadas para entender se as sugestões com as quais crescemos ainda fazem sentido e entender se a sociedade civil tem poder e, se sim, qual ele é. Spoiler: não envolve reciclagem.
Este episódio é uma continuação do Tecnocracia #78 (“Não há assunto mais urgente que a mudança climática”), da mesma maneira que os episódios do House se sucedem: você pode ouvi-los de forma independente, mas é provável que aproveite melhor este se já tiver ouvido o anterior. Dá para dar risada do doutor Gregory House sem saber nada da história principal, mas você entende melhor algumas cenas que não envolvam o deus ex-machina da resolução de casos médicos extraordinários.
Não é sempre, mas uma gota sozinha pode transbordar um balde. Abre aspas para a BBC Brasil:
Corre em livros de História a seguinte anedota sobre o então imperador Dom Pedro II: ao chegar ao baile que veio a ser o último do seu reinado e da monarquia, no dia 9 de novembro de 1889, tropeçou ao entrar no salão. Ao se reerguer, disse, brincando: “A monarquia tropeça, mas não cai.”
Se verdadeira, a piada carregava uma ironia que Dom Pedro II só conheceria mais tarde. A festa derrubou, de fato, a monarquia seis dias depois, em 15 de novembro de 1889.
No Brasil o registro que funciona de verdade é o da torneira — e olha lá, que borrachinhas velhas desperdiçam litros e litros de água diariamente. Piadinha infame à parte, falemos sério: o Brasil não registra sua história direito e, quando registra, não cuida.
Há uma longa lista de tecnologias e produtos criados para guerra e adaptados para a vida em tempos de paz. Trata-se de um processo justificado: guerras são momentos de comoção popular em que há esforços — tanto financeiros como de mão de obra — concentrados em um único objetivo.
Além de 75 milhões de mortos, nações destruídas, uma nova ordem geopolítica, um genocídio baseado em religião e um líder nazista cuja popularidade tem renascido pelas redes sociais, a II Guerra Mundial nos deu a computação. Na Inglaterra, a equipe liderada por Alan Turing criou uma máquina chamada de “Bletchley bombe” para quebrar as comunicações codificadas pelo sistema Enigma dos nazistas. Do outro lado do Atlântico, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia criaram o ENIAC, considerado o primeiro computador eletrônico da história. Quarenta anos depois, o mercado da computação pessoal explodiu.
Vamos começar o segundo episódio da sexta temporada do Tecnocracia explorando duas ideias sem um elo aparente entre elas.
A primeira saiu da cabeça de, facilmente, um dos dez seres humanos mais geniais da história. Em 1687, um polímata inglês de 45 anos lançou um livro chamado Princípios matemáticos da filosofia natural. O livro era composto de basicamente duas leis definidas pelo quarentão após décadas de observação e experimentação com matemática, astronomia e física. Você não apenas já ouviu falar delas, como o livro continua sendo fundamental em uma série de campos do pensamento humano: a lei do movimento e a lei da gravitação universal. Estamos falando de sir Isaac Newton.
Então, eu quero começar a sexta temporada do Tecnocracia falando sobre tempo. Sobre duas acepções de tempo.
A primeira delas: o tempo como a sucessão irreversível de eventos que transforma o presente em passado e o futuro em presente. O tempo como os segundos que avançam no seu relógio. O tempo acumulado que resulta em cabelos brancos, dobras caídas e memória falha. O tempo nos dá distanciamento do que já vivemos, do que estamos vivendo agora. E este olhar à distância nos permite entender melhor o que passou. Dar um roteiro, conectar pontos. Essa interpretação acontece em camadas — quanto mais tempo te separa do evento, maior o contexto, mais profundo consegue ser o entendimento. Tal qual o jornalismo é o primeiro esboço da história, o recesso de fim de ano é também a primeira tentativa de olhar para trás e tentar entender que porra foi aquele ano dentro da sua história.
Esse episódio começa com duas histórias separadas por quase 3 mil anos que se uniram por uma tecnologia. As duas histórias aconteceram em ambientes de que você já ouviu falar e, provavelmente, frequentou.
Atualização (18/12): Ao contrário do que foi publicado originalmente, o vulcão que atingiu Herculano e Pompeia foi o Vesúvio, não o Etna. (Como disse o Guilherme, esta errata prova que nem ele, nem eu, ficamos pensando no Império Romano.
A primeira é em Pompéia — não o bairro classe média cheio de ladeiras em São Paulo, mas a cidade no sul da Itália. Para falar a bem da verdade, não é exatamente Pompéia, mas uma cidadezinha do seu lado, uma espécie de São Caetano de Pompéia: Herculano. Em 790 a.C., uma erupção do vulcão Vesúvio produziu energia térmica 100 mil vezes maior que a da bomba de Hiroshima ou Nagasaki. A explosão do vulcão produziu uma coluna de gases e pedra liquefeita com 33 quilômetros de altura. Calcula-se que, a cada segundo da erupção, o vulcão despejava 1,5 milhão de toneladas de gases e lava 1. Como você bem sabe, a erupção foi forte o suficiente para enterrar debaixo de 20 metros de fuligem não apenas Pompéia, mas também Herculano.
Este é o terceiro episódio de uma trilogia. Ao contrário de algumas das principais trilogias do cinema, é muito provável que você entenda tudo que eu vou descrever aqui, mas, tal qual em House, embora os episódios funcionem de forma independente, eles se complementam quando unidos. Ao contrário de House, aqui não tem o médico manco tendo uma epifania e criando um “deus ex-machina” lá pelo 36º minuto do episódio para que ele termine com a resolução do problema. Nas eleições brasileiras, tudo que poderia ter acontecido, aconteceu. Ou quase tudo — e não graças à big tech, mas a gente já chega lá.
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