Brasil-Mundo

Reportagens de nossos correspondentes em várias partes do mundo sobre fatos políticos, sociais, econômicos, científicos ou culturais, ligados à realidade local ou às relações dos países com o Brasil.

  • 6 minutes 40 seconds
    Conheça a brasileira Cristina Cordula, umas das pioneiras da consultoria de imagem na televisão francesa

    Entre as brasileiras que conquistaram o seu espaço em Paris, certamente está a ex-modelo carioca Cristina Cordula. Em 30 anos na França, ela trilhou o seu próprio caminho no disputado mundo da moda. Porém, se engana quem pensa que a passarela até aqui foi um mar de rosas. Ela conta que, no início da carreira, encontrou muitas portas fechadas, mas que tudo mudou quando decidiu cortar o cabelo bem curto, que virou a sua marca registrada. Cristina não desistiu nas primeiras dificuldades e agora é uma referência de elegância, como conta nessa entrevista exclusiva à RFI Brasil.

    Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

    RFI: Como foi conquistar o seu espaço, primeiro como manequim e modelo, e agora como consultora no país da moda?

    Cristina Cordula: Foi difícil. Eu moro aqui há muitos anos e sou consultora de imagem, com um programa na televisão já há 20 anos e vários livros. Tudo na vida é difícil, ainda mais em um país que não é o seu. Foi muito trabalho para poder alcançar os meus objetivos. E talvez a forma que eu tenho de trabalhar, esse lado brasileiro, de ser mais positiva, mais alegre, ajudou. A consultoria de imagem é uma coisa muito particular, muito sensível. Então, uma coisa é você falar de um jeito sério, com gravidade, e outra coisa é você falar de um modo mais positivo: "olha só, você ficar tão mais bonita assim, minha querida, você vai ver!". Isso dá uma certa alegria para as pessoas. Então, acredito que é esse lado brasileiro que as pessoas gostam.  

    RFI: Você estrelou vários sucessos na televisão, como "Um novo Look para uma nova Vida", "Rainhas do Shopping", entre outros. E você tem os seus bordões: "magnifaïk", "ma chérie", etc. Você não é só uma consultora de moda, mas também empresária, autora, tem a sua marca de maquiagem. Ao olhar para trás, como você avalia esses 30 anos em Paris?  

    Cristina Cordula: Eu só posso ser muito grata com a minha trajetória de vida, com os programas, os meus livros, a minha linha de maquiagem, que eu lancei há dois anos, e a minha agência de consultoria de imagem. Eu fico muito feliz de ter conseguido alcançar isso aqui. Mas tudo é com muito trabalho. Nada se alcança assim fácil.  

    RFI: Foi mais difícil ser consultora de imagem na França, um país que é símbolo de elegância e bom gosto?

    Cristina Cordula: Eu acho que até no Brasil seria o mesmo trabalho, mas aqui tem a barreira da língua, de ter que se expressar de outra forma. Eu fui modelo internacional por muitos anos, eu morei em Nova Iorque, morei em Londres. Depois, eu decidi morar em Paris, fiquei aqui, onde construí a minha família. Eu era muito jovem quando eu saí do meu país, eu tinha 20 anos. Então, esses são momentos difíceis na vida e você precisa de muita coragem para continuar. Mas graças a Deus, com a força do meu trabalho, eu consegui e estou muito feliz aqui, muito feliz mesmo. Eu adoro este país.  

    RFI: Uma das suas marcas registradas é o cabelo curto. Isso lhe abriu portas?  

    Cristina Cordula: Meu cabelo curto foi feito quando eu era modelo em Milão, por um cabeleireiro brasileiro chamado Marco. Na época, eu estava chateada porque eu já estava aqui na Europa desde janeiro, nós estávamos em outubro, e eu não tinha conseguido ainda o trabalho que queria, com o glamour dos desfiles, fotos, etc. Eu estava triste, querendo voltar para casa, com saudades da minha família e falei: "Marco, eu vou voltar para o Brasil, porque o Brasil é o meu país. Eu trabalho muito bem lá, todo mundo me conhece, tenho a minha família lá, os meus amigos que amam muito. Não está dando certo para mim aqui, eu não sou feita para cá, o meu tipo não é para ser modelo na Europa". E ele falou: "Cristina, você não consegue trabalhar na Europa por causa do cabelo comprido. Não fica bem em você, é cafona. Você fica muito perua com esse cabelo. Aqui você tem que ter a sua diferença. Você tem que ter um estilo diferente de todo mundo". E aí eu falei: "você quer saber de uma coisa? Corta o meu cabelo, porque pior do que isso não vai ficar e cresce em dois minutos. Não tem problema". Aí, ele cortou e eu fiquei muito feliz com a imagem que eu vi e pensei "porque eu não fiz isso antes?" Gostei muito do meu cabelo e ele abriu muitas portas.A minha carreira de modelo explodiu. Eu fiz os grandes desfiles, de grandes marcas: Chanel, Dior, fotos para as revistas. Depois, a minha carreira, obviamente, quando eu cheguei aos 30 anos, parou e eu, ao mesmo tempo, me casei e tive o meu filho, que é franco- brasileiro, hoje com 30 anos. Eu construí a minha família. Eu queria continuar trabalhando na moda, mas fazendo alguma coisa que fizesse bem para as pessoas.  

    RFI: Foi então que você se tornou pioneira na consultoria de imagem na França?

    Cristina Cordula: Eu não queria só vender uma roupa. Eu queria fazer uma coisa que fosse mais humana. E aí eu escutei falar sobre a consultoria de imagem, que já existia nos Estados Unidos e na Inglaterra. Eu pensei: isso é maravilhoso, é um trabalho que eu vou usar o meu conhecimento e democratizar a moda também. Era o começo do fast fashion, no início dos anos 2000, e eu pensei que todo mundo tinha o direito de se vestir bem, de se sentir bonita e bonito. Então, eu trabalhei a minha própria técnica, comecei a estudar, comecei a aprender sobre cores e vi o que se fazia fora. Eu criei a minha própria técnica e abri a minha primeira agência. Era muito difícil na época, pois havia muito tabu, porque os franceses não aceitavam. Porque falar de imagem, de look, é uma coisa que pode ferir até o ego da pessoa. É uma coisa muito sensível. E os franceses têm muita resistência no começo, mas depois relaxam e aceitam. Eu comecei com isso aos poucos, então veio o programa da televisão, dois anos depois que eu abri a minha agência de consultoria e aí foi indo e até hoje estou aqui.   

    RFI: Uma coisa que você ensina é se aceitar e usar aquilo que a gente tem de melhor. Você poderia dar um conselho aos leitores?  

    Cristina Cordula: São as nossas diferenças que nos destacam. Essa coisa de ser igual a todo mundo e de estar na moda não serve para todos. Eu corto o cabelo assim porque está na moda, ou uso calça larga porque está na moda. Porém, de repente não fica bem em mim, com a minha morfologia. Essa calça pode não valorizar o seu corpo, os seus ossos, vai fazer você ficar baixinha, vai dar muito ombro, vai torcer o busto. Entendeu? Tem que usar uma roupa que seja obviamente moderna, mas que combine com a sua morfologia e que combine, também, com o seu estilo. Porque, por exemplo, uma pessoa que é descontraída, jamais eu posso propor a ela uma roupa muito chique, salto alto e saia justa, essas coisas muito sofisticadas, porque ela não vai gostar, vai se sentir fantasiada.  

    RFI: Você tem saudades do Brasil e como é a sua relação com o país?  

    Cristina Cordula: Claro que eu tenho saudades do Brasil. Nossa, eu sou brasileira! Eu vou ao Brasil sempre no Natal e pelo menos umas duas vezes por ano. Eu tenho uma relação maravilhosa com o Brasil. Eu tenho muitos amigos lá. Eu adoro o meu país e eu sinto muita falta. A coisa que eu tenho mais saudade do Brasil é a maresia. Eu sou carioca e o cheiro da maresia do Rio de Janeiro, aquele cheiro forte... Quando eu chego no Rio, eu digo: "é a minha madeleine de Proust", como a gente fala em francês.  

    Na França, uma madeleine de Proust é uma espécie de gatilho que traz de volta uma memória de infância. A expressão vem do romance “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, em que o narrador vê surgir uma lembrança, ao comer uma madeleine, essa iguaria francesa. Mais ou menos o que acontece com a carioca Cristina Cordula ao sentir o cheiro da maresia de sua terra natal, e que ela não esquece, apesar da vida de sucesso em Paris.  

    22 December 2024, 3:00 pm
  • 4 minutes 54 seconds
    Brasileira faz sucesso em Lisboa com serviços de limpeza

    Quando a cearense Analberga Silva trocou Fortaleza por Lisboa, há sete anos, não imaginava que fosse criar uma empresa especializada em limpeza em Portugal, muito menos que teria, em quatro anos, um faturamento equivalente a quase R$ 5 milhões.

    Fábia Belém, correspondente da RFI em Portugal

    Analberga Silva trabalhava como gerente-administrativa do setor de Recursos Humanos de uma empresa no Brasil. Ao se mudar para Portugal, agarrou a primeira oportunidade que surgiu, numa imobiliária, onde era encarregada de alugar imóveis e entregar a casa limpa para os clientes. Mas encontrar pessoal especializado para fazer o serviço de limpeza não era uma tarefa fácil.

    “Eu percebi que tinha muita dificuldade. Eu não encontrava empresas disponíveis. Por exemplo: eu alugava a casa hoje e queria a limpeza amanhã. Queria entregar [a casa] rápido para o cliente porque quanto mais rápido eu entregasse, mais rápido eu ganhava comissão.”

    Foi então que Analberga teve a ideia de fazer ela mesma o trabalho com a ajuda de uma amiga. A cearense conta que os clientes que alugavam os imóveis gostavam tanto da qualidade da limpeza que acabavam por contratá-la para terem a casa limpa todas as semanas. A maioria dos clientes era formada por estrangeiros, “e estavam dispostos a pagar bem por esses serviços”, explica.

    Quando percebeu, a então corretora de imóveis tinha muitos clientes fixos e um rendimento superior ao que ganhava na imobiliária.

    “Eu só ganhava [comissão] cada vez que eu alugava [um imóvel], e isso demorava. Não era todo mês”, esclarece. Foi assim que, em 2018, ela decidiu abrir a Maid to You, uma empresa especializada em limpezas profissionais.

    Atenção aos detalhes

    No início, todo o trabalho era feito por Analberga e pela amiga, mas com o aumento da demanda, a empresa ganhou mais seis funcionários e também começou a oferecer o serviço de passar roupas a ferro. Atualmente, a Maid to You atende mais de 30 clientes fixos em Lisboa e nas cidades próximas da capital portuguesa. Na lista estão casas, apartamentos, escritórios, clínicas, escolas e condomínios.

    Ao falar sobre os fatores que contribuíram para o sucesso do negócio, a empresária diz que “a atenção aos detalhes faz, sim, uma certa diferença, com certeza”.  Segundo ela, a disponibilidade dos funcionários para fazerem além do que lhes é pedido e a gentileza também têm cativado os clientes. “É muito nosso isso, muito do brasileiro”.

    Segundo ela, os bons resultados da empresa também se devem à formação e ao treinamento que a equipe recebe periodicamente. “É um treinamento diferente”, que, de acordo com Analberga, não se restringe às principais técnicas de limpeza, mas também envolve os comportamentos que regem uma boa conduta profissional no ambiente de trabalho. Se a limpeza é na casa de um cliente, é importante ter “discrição” e “respeito à privacidade”, por exemplo.

    Focada em inovação para melhorar a oferta dos serviços, a cearense de Quixeramobim alinhou as limpezas a práticas sustentáveis. As equipes passaram a utilizar equipamentos com alto desempenho e baixo consumo energético, e a usar produtos que causam menos impacto ao meio ambiente. “Produtos menos agressivos, mais sustentáveis, porque os produtos biodegradáveis são comprovadamente menos agressivos do que os convencionais”, esclarece.

    Consultorias e formação para imigrantes e refugiados

    Com o negócio indo bem, a brasileira começou a dar consultorias a pessoas e empresas que a procuravam porque precisavam aprender ou aperfeiçoar alguma técnica de limpeza. Algumas delas tornaram-se parceiras da empresária. “Se eu for fazer uma limpeza em um prédio inteiro - a limpeza pós-obra - e a minha equipe não for suficiente, faço parceria com a empresa que já fez consultoria comigo”, explica.  

    Analberga também passou a ser convidada por organizações sem fins lucrativos para dar formações nas áreas de limpeza, mas também para passar e engomar roupas. A última aconteceu em novembro e reuniu mulheres refugiadas e imigrantes, que buscam apoio para a integração em Portugal e capacitação profissional.

    As participantes “estagiaram nos meus clientes”, conta. Aprenderam técnicas de limpeza profissional e como empreender na área. “A ideia é fazer com que elas sejam autônomas e ganhem dinheiro oferecendo serviços de limpeza. Tem uma demanda muito grande aqui em Portugal para esse serviço. Então, tem muito mercado.”

    Ao comentar o trabalho nas organizações e a importância do apoio às mulheres refugiadas e imigrantes, Analberga diz que “quis ajudar da forma que pode” por também ser imigrante e ter enfrentado dificuldades quando veio para Portugal.  

    Para continuar ajudando na inserção profissional de pessoas, a brasileira vai lançar, em fevereiro, um curso on-line de 'engomadoria'. “É um curso só de passar a ferro. Ou seja, é para quem quer empreender sem gastar muito”, avisa.

    E para quem pensa em ter o seu próprio negócio, a cearense de Quixeramobim aconselha. “Acho que é olhar para inovação. Em qualquer área em que você vai empreender, eu acho que é importante olhar para o que está faltando.”

    21 December 2024, 2:27 pm
  • 6 minutes
    Livro de chef brasileiro sobre culinária do Pantanal é lançado em Madri

    No salão amarelo da Embaixada do Brasil em Madri, dezenas de convidados, brasileiros e espanhóis, se reuniram para provar alguns dos sabores típicos do Pantanal. A carta incluía chipa, sopa paraguaia, caldo de peixe, trouxinha de peixe, arroz carreteiro e doce de leite com queijo, além de uma bebida à base de erva-mate. O menu foi assinado pelo chef Paulo Machado, que viajou à Espanha para apresentar a versão em espanhol do seu livro “Cozinha Pantaneira”.

    Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

    A publicação “La cocina del Pantanal” é dividida em capítulos que se dedicam às diferentes facetas da gastronomia praticada na região: comida de comitiva, de festa, de fazenda, de “mercadão”, de cidade e comida indígena, como explica o chef Paulo Machado.

    “A gente resolveu dar essa separada para a pessoa achar gostoso de ler, de entender. ‘Ah, eu tô numa fazenda, vou procurar isso’, ‘eu tô numa cidade, eu vou procurar esse ingrediente, essa técnica’. O livro tem uma explicação bem detalhada sobre a história de cada prato e isso também é muito gostoso de ler”, revela o brasileiro.

    A história do que se cozinha nos territórios pantaneiros se mistura com a própria vida do autor sul-mato-grossense e se reflete em páginas recheadas de textos explicativos, fotos e receitas para que o leitor também possa “cozinhar o Pantanal”, como sugere Paulo. Ele conta que publicar o livro em espanhol é uma tentativa de aproximar o mundo hispanófono dessa culinária tão expressiva.

    “A gente sentiu essa necessidade de traduzir esse livro para poder falar com o público paraguaio, boliviano, espanhol, argentino. Todos os países latino-americanos que têm interesse em conhecer mais a região. A cozinha peruana me inspirou muito nisso, porque existem muitos livros de vários assuntos. Por que não a gente fazer o nosso livro em espanhol? Quem sabe o próximo sai em inglês ou em chinês”, devaneia o chef, já se projetando em outras oportunidades.  

    Ultrapassando fronteiras

    A vontade que existe hoje de levar o Pantanal para o mundo cresceu depois que Paulo Machado saiu pelo mundo para expandir seus horizontes. Ele conta que esteve na França, estudando no Instituto Paul Bocuse, e também no País Basco, no norte da Espanha, onde estagiou num renomado restaurante com três estrelas no guia Michelin. Ao voltar para o Brasil, se reconectou com suas raízes e percebeu que tinha que fazer algo a partir dessas experiências.

    “Eu tive aquela vocação de falar: ‘Espera aí, eu tenho que olhar a cozinha do Pantanal, a cozinha da minha região’, e comecei um trabalho que foi incrível, com pesquisa", recorda. O ponto de partida foram as buscas feitas no Centro de Pesquisas em Gastronomia Brasileira, no núcleo de cozinha pantaneira.

    “Esse foi o embrião do meu mestrado, que foi sobre a comensalidade no Pantanal", relembra o chef. Na sequência vieram a edição brasileira do livro e a tradução em espanhol, que retraçam toda a trajetória de Machado com cozinha raiz, cozinha caipira, cozinha feminina e cozinha pantaneira.

    A documentação do Pantanal como projeto

    A ficha técnica do livro “La cocina del Pantanal” é extensa e conta com nomes como Cristiana Couto, responsável por pesquisa e texto, e Luna Garcia, que assina a fotografia. A realização da publicação ficou a cargo da Documenta Pantanal, uma iniciativa criada por Mônica Guimarães e Teresa Bracher para conectar profissionais de áreas diversas, ambientalistas e ONGs para defender o bioma e sensibilizar o público sobre suas urgências. Mônica veio à capital espanhola acompanhar o autor.

    Produtora de um festival internacional de documentários chamado ‘É Tudo Verdade’, Mônica contou à RFI que conheceu Teresa, dona de terras no Pantanal, "uma conservacionista de carteirinha e educadora social", quando foi procurada por ela para tratar de um assunto específico: o assoreamento dos rios na região, sobretudo do rio Taquari. "Eu fui até o local com o Jorge Bodansky, que é um grande documentarista, fui produzindo o filme, e daí para frente a gente nunca mais parou”, recorda Mônica. O assoreamento do rio Taquari é considerado como o maior desastre ambiental do Pantanal. 

    Depois do documentário, vieram outros filmes, livros e campanhas. O objetivo principal da Documenta Pantanal é proteger a região que acolhe o bioma pantaneiro e difundir as riquezas originárias desses territórios. Este trabalho, desde o início, chegou ao público internacional.

    “Esse primeiro documentário que o Jorge Bodansky e o [João] Farkas dirigiram, que chama ‘Ruivaldo, o homem que salvou a Terra’, foi lançado em Bruxelas exatamente para começar a berrar", recorda Mônica. A equipe queria mostrar que o Pantanal estava secando, apesar de ser a maior planície alagada do mundo. "Foi interessantíssimo a visibilidade que isso trouxe, e agora também para os brasileiros", pontua, ressaltando a importância de fazer o Brasil também enxergar o bioma.

    Planos futuros

    A Documenta Pantanal já tem planos futuros para mais ações pela Europa. A exposição “Água Pantanal Fogo”, que esteve no Instituto Tomi Ohtake, em São Paulo, no início de 2024, deve viajar para Alemanha e Portugal. A mostra conta com fotos de Lalo de Almeida e Luciano Candisani e tem curadoria de Eder Chiodetto.

    “Nós fizemos essa exposição e foi um boom de gente. Quinze mil pessoas foram ao espaço, em menos de dois meses", ressalta Mônica. Com este sucesso em São Paulo, vieram os convites para levar a exposição ao Museu Marítimo de Hamburgo e ao Museu de História Natural em Lisboa. "Em 2025, no primeiro semestre, a Documenta Pantanal vai estar aqui na Europa”, celebra Mônica Guimarães.

    15 December 2024, 4:00 pm
  • 5 minutes
    Ator brasileiro estreia peça off-Broadway em Nova York

    Após percorrer os palcos brasileiros, o ator Ivo Müller traz "Rilke, One Million Words” (“Rilke, Um Milhão de Palavras", em tradução livre para o português) para uma turnê em Nova York. A produção off-Broadway é uma adaptação do monólogo do artista, que ficou em cartaz no Brasil durante cinco anos e promete provocar reflexões sobre identidade, imigração e outras questões que ecoam ao longo dos séculos. O espetáculo estreia em 3 de janeiro.

    Cleide Klock, correspondente em Los Angeles

    A peça cria uma ponte entre o ator do presente e o poeta do passado. Esse poeta é Rainer Maria Rilke (1875-1926), escritor que nasceu em Praga, na República Tcheca, numa época em que a cidade vivia sob a dominação do Império Austro-Húngaro. Para alguns, Rilke é considerado austríaco, por outros é visto como alemão.

    "Eu aproveitei que já trabalhava com o Rilke para trazer isso para minhas questões de identidade nos Estados Unidos", diz Ivo Müller. "Eu tenho um nome muito alemão, só que eu não sou alemão, eu sou brasileiro. Aqui nos Estados Unidos você ouve muito 'você não tem cara de brasileiro', porque o brasileiro é um estereótipo", conta o ator.

    No enredo está a história de um escritor que luta para criar suas poesias e só consegue se expressar por meio de cartas. É por elas que o ator navega para enfrentar os próprios desafios em terras estrangeiras e trazer questões universais e atemporais, como o processo criativo e a sensação de não pertencimento.

    “Rilke tinha essa questão de identidade e se confundia muito, claro. Aquele era um período que envolvia guerras e ele viveu a Primeira Guerra Mundial. Mas parece que essas histórias se repetem. Agora, com o governo Trump querendo mandar milhões de imigrantes de volta, esse amálgama todo que faz a gente ser imigrante e eu uso isso", explica o ator brasileiro. "Esse poeta que nasceu no século retrasado, mas que a obra reverberou no século passado, se encontra com este ator que está vivendo no presente, para falar de questões de amor, do processo artístico, sobre identidade, que são tópicos que continuam ressoando no mundo de hoje", destaca Müller.

    A fascinação do brasileiro por Rilke começou quando lecionava em uma escola pública no Brasil. Na biblioteca, ele descobriu vários exemplares do livro "Cartas a um Jovem Poeta", publicado em 1929. Müller começou a usar os textos em suas aulas e, mais tarde, criou dois shows: "Cartas a um Jovem Poeta", que percorreu o Brasil de 2010 a 2013, e uma versão revisada intitulada "Rilke", que ficou em cartaz entre 2018 e 2020. Agora, "Rilke, One Million Words” é uma readaptação para o público dos Estados Unidos.

    “No Brasil, nos anos 50, teve o movimento do Augusto de Campos que trouxe Rilke de uma maneira muito forte, de volta com a tradução da Clarice Lispector, do Paulo Rónai Cecí. As escolas de teatro, todas mandam ler 'Cartas a um Jovem Poeta', e Rilke é muito conhecido no Brasil por isso, é incrível. Aqui nos Estados Unidos, ele é menos conhecido. Então, existe um trabalho maior para divulgar. Uma diferença também é que eu estou me colocando mais na peça. Aqui é Rilke e Ivo e Ivo e Rilke", diz o ator.

    Ivo Müller nasceu em Santa Catarina, mas construiu a maior parte de sua carreira na dramaturgia no eixo Rio-São Paulo, onde, além de teatro, fez filmes, séries e novelas. Há cinco anos, o ator mora em Los Angeles e viaja com frequência ao Brasil para participar de produções audiovisuais. Neste ano, fez parte do elenco do longa “Barba Ensopada de Sangue", de Aly Muritiba, e, em 2023, estreou "Proof Sheet", do diretor Richard Kilroy, ainda sem título em português e inédito no Brasil.

    A peça "Rilke, One Million Words” ficará em cartaz em Nova York de 3 a 25 de janeiro, de quinta a sábado, no Torn Page, um edifício histórico que já foi lar dos atores hollywoodianos Geraldine Page e Rip Torn. Sem patrocínio para a produção, o ator recorreu à prática comum nos Estados Unidos de levantar recursos para projetos culturais em plataformas de financiamento coletivo, conhecidas no Brasil como vaquinhas virtuais. O catarinense ganhou o apoio de artistas que, assim como ele, tentam a carreira em Hollywood. Uma das doações veio do consagrado ator Wagner Moura.

    Mas, mesmo sem ainda alcançar o valor mínimo para o resgate, Müller já garante a turnê em Nova York e planeja levá-la para outras cidades americanas, como Los Angeles. Em agosto de 2025, ele se apresenta em Edimburgo, na Escócia, onde acontece o maior festival de teatro do mundo.

    14 December 2024, 12:17 pm
  • 5 minutes 43 seconds
    Do Brasil para o mundo mágico da Disney: conheça o paulista por trás do fenômeno “Moana 2”

    “Moana 2” chegou batendo todos os recordes: a animação se tornou a maior estreia de todos os tempos dos estúdios da Disney e, somente nos primeiros cinco dias, arrecadou ao redor do mundo US$ 389 milhões. As aventuras da heroína ou princesa polinésia, como muitos preferem chamar Moana, e do semideus atrapalhado Maui seguem conquistando tanto mares quanto o público. O filme nada contra a corrente da crise que esvazia as salas de cinema, e segue em direção ao bilhão de dólares de faturamento.

    Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

    Assim como a protagonista Moana, que navega por águas desconhecidas em busca de seu destino, Vitor Vilela também deixou a zona de conforto para realizar seus sonhos. O brasileiro, natural de São Paulo, decidiu seguir sua paixão pela animação, se mudou para os Estados Unidos e desde 2015, trabalha nos estúdios da Disney em Burbank, na Califórnia. Ele assina como supervisor de animação de “Moana 2”.

    “Acho que esse é o legal da Moana: ela é uma personagem independente, tão forte. Tem uma presença tão grandiosa e acho que ela vai trazer essa mensagem de que as coisas são possíveis. É só você quem tem que ir atrás, batalhar para chegar lá. Acho que isso diz um pouco dessa história do imigrante, que chega com a cara e com a coragem e não sabe o que está por vir, mas a gente segue seguindo", confiou à RFI. "Eu me identifico muito com essa personalidade, com essa perseverança da Moana."

    Vilela se formou em Publicidade na Universidade Metodista de Piracicaba, chegou a trabalhar na Rede Globo e agora, há quase uma década nos estúdios, já traz no currículo outros campeões de bilheterias bilionárias da Disney, como Zootopia (2016) e Frozen 2 (2019), além da primeira animação de “Moana" – o filme mais visto nos serviços de streaming nos Estados Unidos em 2023.

    A continuação das aventuras de Moana seria, originalmente, uma série para o Disney+, mas a companhia resolver transformá-la em filme.

    “Eu entrei no time para dar suporte para terminar o filme. Foi uma parte que foi feita em dois estúdios: em Burbank a gente entrou para ajudar a finalizar esse projeto que foi começado pelo outro time", relata Vilela. "Moana foi o meu personagem, que eu supervisionei. Foi bem legal estar interagindo com os dois times e participar desse projeto novamente, interagir com esses personagens. Trouxe para mim boas lembranças e está sendo muito legal ver esse filme finalizado."

    Conexão e personagens que crescem com o espectador

    “Moana 2” conquistou esse sucesso estrondoso garças, em parte, à conexão emocional que a personagem estabeleceu com seu público. Assim como Riley, do outro sucesso do ano "Divertidamente 2" (Pixar, que também pertence à Disney), Moana cresceu junto com seus espectadores.

    As sequências não apenas continuam essas histórias, como celebram o amadurecimento da personagem e do público, oferecendo aos fãs a oportunidade de revisitar um universo familiar e acompanhar a evolução de suas heroínas.

    “Acho que é uma identificação com o público bem direta. Esse é o legal de acompanhar o personagem: você envelhece junto com ele", diz o brasileiro. "Você acompanha essa jornada, as dificuldades e a aventura vai evoluindo conforme a gente vai crescendo."

    Cultura polinésia, emoção universal

    A criação de “Moana 2” foi um processo colaborativo que envolveu não apenas artistas e animadores, mas também consultores que incluem antropólogos, historiadores, linguistas e coreógrafos, para que o projeto fosse culturalmente autêntico com os povos do Pacífico. A direção é assinada por três cineastas, Jason Hand, Dana Miller e David Derrick Jr., e os últimos dois têm sangue polinésio, como a protagonista.

    Para Vilela, a inspiração vem das ilhas do Pacífico, mas a conexão com essa história é universal. “Se o primeiro filme foi sobre o passado, conectar com os ancestrais dela e conectar com ela mesma e ter aquela descoberta pessoal dela, esse segundo é sobre o futuro. É sobre conectar com a comunidade e conectar com as pessoas que estão ao seu redor", salienta Vilela. "Acho que isso vem muito dessa cultura deles, de unir os povos. É muito bonita essa história de como eles fizeram. Naquele tempo, quão grandioso foi o ato de atravessar oceanos para chegar em outros lugares e descobrir, por exemplo, o Havaí", observa o brasileiro. "É uma cultura que realmente inspira a gente e traz aprendizados muito importantes. Eu me inspiro muito na cultura polinésia também, tanto na música, quanto no contato com a natureza e o oceano. É uma cultura muito linda", finaliza Vilela.

    8 December 2024, 12:10 pm
  • 4 minutes 59 seconds
    Professora brasileira leva a Portugal projeto inovador de canto coral

    Com 46 anos dedicados ao canto coral, a carioca Patrícia Costa criou dois coros na cidade portuguesa de Aveiro: o Relâmpago e o Corisco d’Aveiro. Para o projeto, ela tem atraído portugueses, brasileiros e pessoas de diferentes partes do mundo, com ou sem nenhuma experiência em canto coletivo.

    De Portugal, Fábia Belém

    Doutora em Performance Musical pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a carioca Patrícia Costa construiu, no Brasil, uma carreira sólida e bem-sucedida como professora de música, diretora de coral, arranjadora vocal e diretora de cena para música cênica. Quatro anos atrás, em plena pandemia de Covid-19, ela e o marido trocaram o Rio de Janeiro pela cidade de Aveiro, localizada na região central de Portugal. No final de 2022, ela criou um projeto inovador de canto coletivo, com o apoio do diretor da Oficina de Música de Aveiro (OMA), Zetó Rodrigues.

    Patrícia lembra exatamente o que sugeriu a Rodrigues dois atrás: “Um coro de prazo curto a que eu vou chamar de ‘Coro Relâmpago’”. O projeto propõe um mês e meio de ensaios semanais, cada ensaio com uma média de duas horas de duração e uma apresentação ao final do projeto.

    Para a alegria da regente brasileira e da OMA, o Coro Relâmpago deu tão certo que já está na nona edição. Cada vez que as inscrições são abertas, ela consegue juntar de 35 a 40 interessados de diferentes idades e nacionalidades.

    “Eu tenho cantores portugueses, brasileiros, africanos. Agora, estamos com uma grega, com um venezuelano”, diz. “A ideia é justamente essa mistura. No momento em que o mundo me parece tão tomado por um discurso separatista, eu quero a união, que as pessoas queiram se unir através da música”, explica a regente brasileira.

    “Acredito que todo mundo pode vir a cantar”

    Entram no Relâmpago quem já participou de suas edições passadas e quer se manter no coro, e também gente nova – o projeto é aberto a qualquer pessoa que queira experimentar o canto coletivo. “Claro que há umas pessoas que têm mais dificuldades do que outras. Mas eu, de fato, acredito que todo mundo pode vir a cantar”, garante.

    Ser capaz de cantar foi uma feliz descoberta para o português António Correia, que faz parte do Relâmpago desde a sua quarta edição. Ele conta que sempre gostou muito de música, mas não imaginava que pudesse fazer parte de um projeto musical.

    “Esta experiência tem mostrado que posso fazer parte disto e que me sinto extremamente feliz. Um ano e meio atrás, se me dissessem que isto iria acontecer, eu diria que não, que era impossível”, ressalta.

    Já a brasileira Victoria Garbayo dedica-se ao canto coral desde os 9 anos de idade. Ela era aluna da Patrícia Costa no Rio de Janeiro, e juntou-se ao projeto da ex-professora em Portugal, onde mora há sete anos.

    “Muito bom poder fazer parte desse grupo que está crescendo, se desenvolvendo musicalmente, um grupo unido com pelo menos uma coisa em comum, que é a música”, sublinha.

    Os ensaios do Coro Relâmpago acontecem na Oficina de Música de Aveiro, que se transformou numa grande parceira da regente brasileira e numa espécie de casa dos coralistas. O repertório reúne músicas de diferentes partes do mundo.

    Patrícia recorda que, nas comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, em abril deste ano, ela decidiu “pegar algumas músicas portuguesas, africanas e brasileiras, e fazer misturas”. Ela misturou música do português Antônio Variações com canção do brasileiro Cazuza. Fez o mesmo com o cantor português Vitorino e a dupla brasileira formada pelos irmãos Kleiton & Kledir.

    “Eu faço essa mistura como uma forma de dizer: 'gente, que lindo que é a gente poder misturar as culturas, trazer à tona coisas que tão no sangue’”, explica Patrícia.

    O projeto tem feito tanto sucesso que no final de agosto deu o primeiro fruto – o coro “Corisco d’Aveiro”, formado por quem já integrou ou ainda faz parte do Relâmpago e quer se dedicar à música vocal brasileira.

    Assim como o Relâmpago, o Corisco trabalha em curtas temporadas, embora exija mais tempo de quem participa – de dois a três meses”. O novo coral “tem um voo um pouco mais ambicioso, de pegar um repertório, às vezes, um pouco mais puxado em termos musicais”, esclarece Patrícia Costa.

    Medalha de ouro

    No 5º Festival e Concurso Internacional de Coros da Beira Interior, que aconteceu há dois meses, em Portugal, o Corisco d’Aveiro ganhou a medalha de ouro na categoria folclore. “Folclore brasileiro”, salienta.

    “E voltamos instigadíssimos para fazermos mais”, avisa a regente. Se depender dela, Victoria Garbayo, António Correia e todos os outros coralistas do projeto vão ter muito o que cantar e viver em grupo.

    “Eu digo que o coral é uma sociedade sã, onde impera a generosidade, o apoio, a acolhida, onde todos se dão as mãos e vão juntos. E é por aí que tem de ser.”

    Os coros Relâmpago e Corisco d’Aveiro apresentam concertos de Natal neste sábado (07), no Instituto Pernambuco Porto, na cidade do Porto, domingo (08), no Centro Cultural da vila portuguesa de Góis, e segunda (09), na Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro.

    7 December 2024, 11:49 am
  • 13 minutes 14 seconds
    Por que brasileiros formam a maior comunidade imigrante no Estado americano de Massachusetts?

    Cerca de dois milhões de brasileiros vivem nos Estados Unidos, a maioria deles na Flórida. No entanto, é em Massachusetts, no nordeste do país, que cidadãos originários do Brasil são a maior comunidade imigrante em um estado. A RFI foi até o local conhecê-los e saber os motivos que os levaram até lá. 

     

    Daniella Franco, da RFI

    Dados do Instituto Diáspora Brasil, baseado em Boston, capital de Massachusetts, apontam que a história da comunidade brasileira no Estado teve início há mais de 50 anos. Segundo o fundador do instituto, Alvaro de Castro e Lima, essa imigração, "de vai e vem", intensificou-se nos anos 1980, época de recessão econômica e de alto desemprego no Brasil. 

    "Em geral, os brasileiros vinham para trabalhar aqui durante o verão, na maior parte jovens e homens. Eles trabalhavam no setor de serviços da costa de Massachusetts, e quando o inverno chegava, eles voltavam para o Brasil", explica. "Com as mudanças na política imigratória dos Estados Unidos, essas idas e vindas foram ficando impossíveis, e essa política teve como efeito não previsto a permanência dessas pessoas aqui", reitera.

    Nos anos 1990, a imigração brasileira começou a ter um caráter mais familiar, com a chegada de mais mulheres. "Esse movimento se espalha pelo estado e vai mudando conforme as oportunidades de emprego, com o custo de vida e o preço dos aluguéis, principalmente", diz Lima. 

    Atualmente, cerca de 350 mil pessoas com nacionalidade brasileira vivem no estado. Segundo o fundador do Instituto Diáspora Brasil, os brasileiros nos Estados Unidos se dividem hoje entre profissionais da classe média e pessoas de meios mais desfavorecidos, que desembarcam em Massachusetts em busca de melhores oportunidades de vida. 

    Um futuro melhor

    O engenheiro civil paulista Eduardo Oliveira faz parte da última onda da imigração brasileira em Massachusetts, onde trabalha com serviços de manutenção e reparos. Ele chegou ao país com o filho adolescente há três anos e não se arrepende de ter trocado o Brasil pelos Estados Unidos.

    "O meu motivo de vir para cá, ao contrário de muitos imigrantes, não foi em busca de dinheiro para mandar para o Brasil, mas vim pensando no futuro do meu filho", diz. "Aqui em Massachusetts estão as melhores universidades do mundo e estou investindo toda a minha vida pensando no futuro dele", acrescenta.

    Embora nunca tenha sido vítima de xenofobia no país, Eduardo aponta duas principais dificuldades em sua vida de estrangeiro. "Inicialmente, tem o choque da língua e também a convivência com diferentes culturas", diz. "Massachusetts é um Estado que acolhe imigrantes do mundo todo. No trânsito, às vezes você se depara com indianos, que gostam de ficar buzinando o tempo todo, porque lá no país deles o costume é esse", explica. 

    O paulista também destaca a qualidade de vida que tem nos Estados Unidos e o poder de consumo. "Eu consigo comprar uma televisão bonita apenas com o valor que recebo em um dia de trabalho", salienta.

    Igrejas evangélicas

    Nesse apoio à adaptação em um país estrangeiro, as igrejas evangélicas têm um papel social de peso. Há dezenas de instituições religiosas brasileiras em Massachusetts, entre elas, a igreja Palavra de Vida, em Walpole, ao sul do Boston. Um de seus fundadores, o pastor Hélio Ferreira, detalhou o suporte que concede aos imigrantes brasileiros.

    "Imagine uma pessoa lá do interiorzão do Brasil sozinha. Aqui ela não tem mãe, pai, filhos, esposa. Então, a igreja passa a ser a família dessas pessoas", afirma. "Uma pessoa que está bem socialmente vai contribuir para a comunidade, e nós trabalhamos muito esse aspecto social", destaca. 

    Além do apoio à integração, Ferreira também destaca a ajuda financeira a seus fiéis. "Aquela senhora que eu levei lá na frente e que sobreviveu a um câncer [durante culto em 3 de novembro, acompanhado pela reportagem da RFI]. Nós passamos dois, três anos orando com ela. Quem você acha que sustentou essa pessoa durante três anos? São coisas que a gente não fala em público, mas são coisas que igreja faz", sublinha o pastor. 

    A empresária Marcieli Pastorio, fiel da igreja Palavra de Vida, confirma as palavras de Ferreira. "Eu estava passando por um divórcio muito difícil, tive um problema pessoal e acabei indo para o hospital. Minha mãe encontrou o pastor Hélio e ele, com sua esposa Nani, foram ao hospital me fazer uma visita. Quando eu tive alta, comecei a frequentar aqui", conta.

    Segundo ela, a instituição é um importante suporte para sua vida espiritual e sua integração. "Quando me divorciei, meus pais decidiram comprar a loja do pastor Hélio, que estava à venda na época para que eu pudesse me sustentar e sair da casa do meu ex-marido. Então, foi onde a relação com a igreja Palavra de Vida se intensificou, porque comecei a ter um papel maior dentro da comunidade brasileira aqui nessa região, e também dentro da igreja", completa.

    Brasileiros na política de Massachusetts

    Os brasileiros também marcam presença na vida política de Massachusetts. O Estado conta com três deputados que emigraram do Brasil, todos do Partido Democrata. Entre eles, Priscila Sousa, natural de Ipatinga (MG), que representa na Assembleia Legislativa estadual o distrito que abriga Framingham, conhecida como a cidade mais brasileira dos Estados Unidos.

    "É uma honra representar a nossa comunidade aqui", diz Priscila. "Eu amo essa cidade que abraçou os brasileiros e que deu espaço para empreendermos e crescermos aqui", reitera, destacando a imensa responsabilidade de seu trabalho. "Na nossa comunidade está aumentando o engajamento político. Então, temos também essa obrigação de participar da educação cívica dos brasileiros", sublinha. 

    Marcony Almeida Barros, natural de Maceió (AL), é chefe-adjunto de gabinete da governadora de Massachusetts, a democrata Maura Healey. Em Everett, ao norte de Boston, onde é o idealizador de um programa pioneiro para alunos sem-teto, o alagoano também exerce o cargo de vereador escolar, similar ao de um secretário de Educação estadual no Brasil. 

    "Existe um grande número de alunos em Everett que são considerados 'homeless', ou seja, que não têm casa para morar, inclusive muitos brasileiros. As famílias vêm para cá e quando não dá certo a vida aqui, eles querem voltar para o Brasil. Mas os filhos já se adaptaram aqui, estão falando inglês fluente, e consideram que os Estados Unidos são o país deles. Então tem muitos pais que voltam, mas deixam os filhos aqui", conta.

    Segundo Barros, várias dessas crianças ficam sob a responsabilidade de outros familiares ou amigos, e acabam indo parar nas ruas. Ao assumir o cargo de vereador escolar, o alagoano contabilizou cerca de cem menores nesta situação em Everett. 

    "A gente paga o aluguel destes jovens, contrata uma agência de assistência social para ajudá-los, e essa agência vai em busca de quartos ou casas para eles. A única condição para continuarem no programa é não deixarem a escola", explica. 

    A ameaça de Trump aos imigrantes brasileiros

    Com a promessa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de colocar em prática um projeto de deportação em massa de imigrantes, a comunidade brasileira pode entrar na mira da extrema direita americana, prevê o fundador do Instituto Diáspora Brasil.

    "Muita gente acredita que ele fala essas coisas, mas não vai fazer, que essas declarações dele são só política eleitoral", diz Alvaro de Castro e Lima. "Mas ele é capaz disso", reitera, destacando também a possibilidade do republicano de mobilizar a população contra os imigrantes. "O problema é quando esse caldo que Trump está preparando atingir o ponto de fervura", adverte. 

    Segundo ele, a situação pode piorar nos próximos meses. "A imigração aumentou bastante nos Estados Unidos, e em cidades que não conheciam esse fenômeno. Então, você tem uma massa que pode ser manipulada e que realmente acredita no que Trump diz", observa. "Para eles, o grande problema dos Estados Unidos são os imigrantes", lamenta.

    24 November 2024, 6:07 pm
  • 12 minutes 43 seconds
    Fred Martins e Marcos Suzano unem talentos em 'Barbarizando Geral', um álbum de 'samba de resistência'

    O cantor e compositor Fred Martins, com 14 anos de experiência na música entre Portugal e Espanha, e o renomado percussionista Marcos Suzano, um dos músicos mais respeitados do Brasil, apresentam o álbum "Barbarizando Geral". Este projeto artístico traz um repertório que mescla crítica social e celebração da vida, oferecendo uma obra relevante no contexto cultural brasileiro atual.

    Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal

    Martins expressou à RFI sua empolgação com a colaboração. "Foi uma honra trabalhar junto com o Suzano neste disco. Ele é um músico muito inquieto, sempre em busca de novos caminhos. Sendo este um disco de samba, algumas das opções que ele sugeriu foram desafiadoras para mim. Muitas vezes, tive que recriar arranjos da guitarra e, consequentemente, do canto para obter o resultado orgânico da interpretação de algumas canções. Foi, sem dúvida, um ganho muito interessante", explica o artista radicado em Portugal.

    Samba com Temáticas Relevantes

    O álbum reflete a conexão cultural entre Brasil e Europa, e foi gravado simultaneamente em Lisboa e no Rio de Janeiro. Martins e Suzano abordam temas relevantes como desigualdade social, autoritarismo e destruição ambiental. O trabalho surge da inquietação dos artistas diante do crescimento de um discurso ultraconservador que, segundo eles, promove o ódio e a violência na sociedade. "Eu vivi parte da ditadura brasileira e lembro muito bem do clima de autoritarismo. Assistir a este retrocesso é muito triste e inquietante. Este disco vem desse sentimento de tristeza e revolta", desabafa Suzano.

    A obra provoca reflexão sobre as questões mais prementes da atualidade, trazendo uma fusão rica de ritmos afro-brasileiros e uma crítica contundente à realidade social contemporânea. 

    Martins destaca ainda o impacto da religiosidade fundamentalista no Brasil, que tem efeito drástico na vida cotidiana. "Trabalhar o disco em forma de samba não foi uma escolha consciente, mas o samba é nossa maior afirmação da base afro-brasileira. É uma resposta potente à opressão que nosso povo vive", acrescenta.

    Ritmos afro-brasileiros e crítica social

    "Barbarizando Geral" mescla samba com críticas contundentes, destacando a importância do samba como forma de resistência cultural. Dentre as faixas do álbum, destacam-se "Barbarizando Geral", "Senzala", "Madame Maldade" e "O Rancho da Seita Suicida", que criticam a negação da ciência e os perigos da desinformação. Uma das colaborações mais notáveis é "Além do qualquer", que mistura samba e tango, clamando por um mundo onde a arte e a justiça prevaleçam. O álbum também inclui o samba-de-breque "Ahmed", que oferece uma crítica bem-humorada sobre fake news envolvendo Chico Buarque, evidenciando a capacidade dos artistas de tratar tópicos sérios de forma leve e irônica.

    "Barbarizando Geral" conta com a participação de diversos músicos, entre os quais Martín Sued (bandoneón), Sacha Ambak (teclados), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone), além de vozes de Nani Medeiros e do grupo MPB4. Martins explica que as escolhas para o álbum se basearam na admiração e afinidade, destacando a importância de contar com ídolos da música brasileira. "Contar com a MPB4, que é uma referência para mim, e a participação de Nani Medeiros, uma cantora jovem que admiro muito, acrescentou muito ao projeto", afirma o cantor que nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro.

    A produção musical é uma co-criação entre Martins e Suzano, refletindo a expertise de ambos. A capa do álbum, desenhada pelo artista Márcio Oliveira, complementa a proposta estética e a temática das músicas, reforçando a conexão com a realidade social abordada.

    "Barbarizando Geral", que foi editado pela Biscoito Fino, já está disponível nas plataformas digitais. O disco é uma expressão da resistência musical e uma chamada à reflexão em um momento crítico da sociedade.

    23 November 2024, 5:04 pm
  • 5 minutes 4 seconds
    Dos números às letras: brasileira doutora em economia lança livro de poesia em Nova York

    Georgia Rodrigues tem artigos publicados questionando a viabilidade de uma moeda única no Mercosul, escreveu sobre a necessidade de pensar o acordo do bloco com a União Europeia de modo a não comprometer o desenvolvimento justo e sustentável. Ela é doutora em economia com uma passagem pelo Instituto de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Columbia, onde começou sua trajetória em Nova York.
     

    Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

    Dos tempos de doutoranda, interrompidos pela pandemia, ela guarda amigos e uma decepção amorosa que se transformou no impulso para seu primeiro mergulho no mundo da literatura. A economista acaba de lançar "Uma carta para meu ex-futuro amor: a letter to my ex-future love", uma coleção de poesias sobre um coração partido em contexto pandêmico.

    Sobre a transição dos números para as letras, Georgia explica que "foi uma transição e também não foi". "Desde pequena eu escrevo. Eu aprendi a escrever poesia quando eu tinha 14 anos, na escola de Freda que eu estudava, lá em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. E eu fiquei apaixonada pelos sonetos", conta admirada com a "montagem de 4 em 4" e com "a liberdade de rimar" os versos. "Parece música!" 

    A pandemia frustrou sua experiência de intercâmbio, já que com a ordem de confinamento ela teve de voltar ao Brasil. Buscando uma conexão com o exterior, Georgia entrou no aplicativo de relacionamentos Coffee Meets Bagel para encontrar alguém com quem conversar sobre Nova York e, assim, conheceu o que chama de seu "Ex-Futuro Amor".

    Como muitos solteiros na pandemia, Georgia descobriu que as dificuldades do namoro pós-Covid-19. Segundo o Pew Research Center, o interesse em encontrar um parceiro permaneceu o mesmo após a pandemia, mas a maioria considera a paquera um processo mais difícil. Estudos mostram que aplicativos de namoro podem afetar negativamente a saúde mental, gerando sentimentos de solidão e ansiedade. No caso da economista, a promessa de um amor resultou em um único encontro e uma dolorosa decepção. Mas com o apoio dos amigos e da poesia, ela conseguiu se reerguer e decidiu financiar seu primeiro livro.

    Editoras independentes 

    Georgia conta que teve que buscar editoras independentes e lidar com feedbacks desanimadores. Uma das razões era seu desconhecimento do mercado. "Eu comecei a pesquisar um monte de editoras e um dos feedbacks que tive é que eu não era uma pessoa famosa, porque eu não tinha histórico de vendas", relata. 

    Com o incentivo de um fundo cultural, ela cobriu parte dos custos da publicação. "Eu tive que colocar um pouco mais do meu dinheiro, mas não foi muita coisa. O fundo cobriu quase tudo. Neste fundo da cultura, no Rio de Janeiro, na classificação de mulheres e escritoras tinha uma cota para mulheres. Então fui, consegui e fiz." 

    Publicado pela editora Labrador e apresentado na Festa Literária Internacional de Paraty, o livro chegou também aos primeiros lugares de venda de poesia em português na Amazon França. "A internet nos gerou um mundo com menos barreiras, onde você pode ter maior visibilidade. Eu pensei, nossa, o pessoal realmente gostou", Georgia comenta.

    O caminho da economista pela literatura ilustra como a digitalização dos livros possibilitou que escritores iniciantes alcançassem maior visibilidade e pudessem chegar ao seu público-alvo de modo mais eficaz, como explica um relatório sobre o impacto da digitalização no mercado literário feito pela Pontifícia Universidade do Paraná. "Eu acho que se não tivesse esse ambiente virtual, provavelmente as pessoas no exterior não ficariam sabendo do livro", acredita. 

    As livrarias e editoras especializadas também ampliaram o mercado para novas autoras. Georgia lançou seu livro em Nova York na livraria feminista Cafécon Libros, no Brooklyn. De propriedade de uma mulher afro-latina, a editora se dedica a dar visibilidade a mulheres artistas e minorias.

    "Eu pensei, a história foi aqui no Brasil e lá (Nova York). Tem que ter um desfecho lá também. Tem também que florescer aqui em Nova York. É uma história que ressoa universalmente. Mulheres do Brasil, mulheres em Nova York. Todo mundo passa por um relacionamento tóxico. Todo mundo sofreu na pele as consequências da pandemia", diz. 

    9 November 2024, 1:11 pm
  • 9 minutes 16 seconds
    Luana Piovani celebra 35 anos de carreira com espetáculo inédito em Lisboa

    A atriz brasileira Luana Piovani recebeu a RFI para falar do seu mais novo espetáculo "Cantos da Lua", que está em cartaz no Auditório dos Oceanos, em Lisboa, capital de Portugal.

    Por Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal

    “Desde que vim para Portugal quase seis anos atrás, comecei a ter vontade de voltar ao teatro. Eu acredito em formação de plateia e, depois de observar o mercado, achei que não seria prudente tentar entrar em algum grupo ou fazer um texto clássico. A melhor porta de entrada seria usufruir da curiosidade das pessoas e criar algo diferente do que existe no mercado e sempre levando em consideração que estou fazendo 35 anos de carreira. Foi então que veio esta ideia, no fundo um compilado de desejos”, explica a atriz.

    Esta apresentação marca a celebração dos 35 anos da carreira artística da atriz brasileira e traz um formato intimista e inédito, onde Luana compartilha momentos da sua vida e trajetória. No espetáculo, Luana canta músicas ligadas às histórias que conta, criando uma atmosfera que mescla teatro, musical e stand up. O público divide o palco com a atriz em um formato cabaré o que intensifica a sensação de proximidade e interação.

    Em “Cantos da Lua”, Luana está “despida”. “O espetáculo é muito dúbio porque entro com uma postura de diva, naquela entrada silenciosa, triunfal e impactante e, ao mesmo tempo, eu estou pelada, estou humana. Eu rio de mim mesma. Enquanto o mundo se aplaude, se põe em um pedestal, se coloca perfeito, eu estou fazendo exatamente o oposto, o caminho inverso, eu vou para a humanização”, revela.

    Conexão com o público

    Diferente do que fez até agora, "Cantos da Lua" é uma forma da atriz se conectar com o público de maneira mais pessoal. “Essas minhas histórias que conto já são clássicas, pois tenho 35 anos de carreira, mas pelo menos 40 de vida bem vivida. Algumas meus amigos próximos já conhecem, pois são muito antigas e clássicas e outras fui desenterrando”.

    O espetáculo combina canções e relatos da vida da atriz, proporcionando uma experiência envolvente e reflexiva para os espectadores que ainda podem participar na escolha das músicas antes do espetáculo começar via QR code. Segundo a artista, cantar no palco tem sido o maior desafio.

    “Eu tenho que ter muita disciplina. Fico muito orgulhosa de mim quando não erro nada e sei que aprendo quando erro alguma coisa”, confessa a artista, que estreou na televisão em 1993.

    Revelando sua nova faceta: Luana canta no palco

    Durante a apresentação, Luana canta músicas em português e inglês e conversa com a plateia, relembrando momentos marcantes de sua carreira e vida pessoal. As histórias abordadas incluem episódios engraçados e emocionantes, revelando um lado mais íntimo da atriz que o público normalmente não vê.

    “Eu não conto as minhas vitórias, eu estou no palco dividindo as minhas derrotas. As histórias que eu conto são engraçadas hoje, mas só eu sei o que senti quando abri o olho e acordei ao lado de uma pessoa que nunca vi na vida, num quarto de hotel”, revela.

    O espetáculo conta com a direção de Ando Camargo, que chegou a Lisboa dois meses antes da estreia para os ensaios, contribuindo com sua experiência para a criação de um ambiente autêntico na apresentação.

    “É um trabalho de amor, de amizade, mais do que um trabalho profissional. Fiquei muito feliz em fazer parte de todo este processo e de saber que as pessoas conseguiram ver meu trabalho em todas as sutilezas do espetáculo”, comenta Camargo.

    Luana e Ando começaram a trabalhar na peça em abril deste ano, quando a atriz esteve no Brasil. “Esse espetáculo passou por um processo enorme de transformação desde quando eu tive a ideia de fazê-lo. Acredito que tudo o que vai saindo é para a melhor. As coisas que aconteceram ao longo do tempo foi para deixar no formato perfeito. É impressionante como o universo conspira a favor quando se esta fazendo corretamente, é a lei da física”, diz Luana.

    A artista se conecta de maneira sincera e autêntica com o público. “Eu não quero mostrar o lado da Luana atriz e sim de uma pessoa que é idealizada dentro de um conceito que o mundo criou. Meu objetivo é desmistificar e mostrar que isso tudo é mentira. Isso é um produto que está sendo vendido, não comprem! Todos esses seres humanos que as pessoas idealizam também passam pelas mesmas coisas e, por exemplo, aqui estão algumas das minhas histórias. O espetáculo é sobre isso”, explica a artista.

    Para o diretor, a performance da atriz gera muitas emoções.“Isso foi aparecendo durante os ensaios. Fomos percebendo que depois das histórias engraçadas, quando chegava neste lugar da emoção, percebíamos que toda a equipe também se emocionava, isso ainda durante os ensaios”, revela Ando Camargo.

    Emoção que, segundo a atriz, ela também vê na expressão do público. “Estar no palco aqui em Portugal vem sendo uma experiência extremamente satisfatória. As pessoas têm muito carinho e respeito por mim. Eu tinha uma vaga ideia da proporção deste carinho, mas agora eu estou sentindo realmente. Eu vejo isso na feição das pessoas. O espetáculo tem capacidade para oitenta pessoas e quando saio tem sempre, pelo menos quarenta me esperando. É muito surpreendente”, conta Piovani.

    Depois de quase seis anos morando em Portugal, a atriz se sente realizada com esta peça. “Não consigo pôr em palavras como tem sido a minha experiência até agora. Hoje mesmo olhei para dentro da alma do Ando e disse para ele: 'se fui mais feliz, não me lembro'. Este espetáculo era o que faltava para coroar a grande mudança que fiz na minha vida, sair do meu país, ter atravessado um oceano, trazido minha família para Portugal, desfeito minha família aqui, ter reencontrado uma nova receita de família, ter aumentado o meu trabalho como mulher e mãe em, pelo menos 60% a mais do que era”, comenta Luana.

    Planos de digressão para "Cantos da Lua"

    As apresentações de "Cantos da Lua" seguem em cartaz nas próximas semanas na capital portuguesa, mas a atriz já tem planos de levar o espetáculo para outros teatros do país em 2025, expandindo a oportunidade de compartilhar suas histórias e experiências com um público ainda mais amplo. Mas levar para o Brasil ainda não está nos planos.

    “A ideia de levar para o Brasil existe, mas mais para frente. Este espetáculo é pensado para Portugal. Queremos levar para o Cassino do Estoril, Porto, que vamos fazer na mesma dinâmica com o público no palco”, revela Piovani.

    "Quero que mais pessoas possam ver e sentir o que estou vivendo nesse espetáculo", afirma a atriz.

    3 November 2024, 2:38 pm
  • 5 minutes
    Fernanda Torres e Selton Mello participam de "missão Oscar" em Los Angeles

    A dupla de atores brasileiros deu início a uma jornada de 25 dias de campanha nos Estados Unidos para divulgar o filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles. O objetivo é conquistar Hollywood e uma vaga na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional.

    Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

    Os atores Fernanda Torres e Selton Mello, protagonistas do filme “Ainda Estou Aqui”, representante brasileiro na corrida pelo Oscar, estão em Los Angeles para uma intensa agenda de 25 dias para essa primeira fase da campanha. A dupla, que tem conquistado o público e a crítica com suas atuações, busca agora ganhar os votos dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e tentar uma estatueta inédita para o país.

     

    "É igual campanha política, você vai de cidade em cidade. É muito louco!", contou Fernanda Torres à RFI.

    "São muitas sessões, várias sessões fechadas para o SAG, o sindicato dos atores, sindicato dos diretores, dentro de agências, sessões fechadas para convidados, para votantes da academia, é hora de mostrar que o filme existe e conversar com as pessoas. Dizer que estamos aqui trabalhando", completa Selton Mello.

    A primeira apresentação do filme, em Los Angeles, aconteceu no AFIfest, promovido pelo American Film Institute, que é um dos principais eventos pré-Oscar de lançamentos de filmes que devem aparecer na concorrida lista de indicados à premiação.

    Já nesta última terça-feira (29), os atores abriram o 16⁠º HBRFF - Hollywood Brazilian Film Festival, que aconteceu no Museu do Oscar.

    "A resposta tem sido linda. Por todos os lugares onde a gente passa, todas as culturas recebem o filme muito bem, porque eu acho que é um filme afetuoso, fala através dessa família, conta a história de um país e isso, acho que o mundo todo acaba se conectando", diz Selton Mello.

    Ditadura militar

    "Ainda Estou Aqui" foi dirigido por Walter Salles e mostra a história de Eunice Paiva. O marido dela era o ex-deputado federal Rubens Paiva, que foi torturado e assassinado pela ditadura militar, em 1971. O longa foi baseado no livro do filho deles, o jornalista Marcelo Rubens Paiva.

    Fernanda Torres interpreta a personagem principal e Selton Mello faz o papel do ex-deputado.

    "É um filme que fala de política, de viver num Estado autoritário, do que significa você escolher viver num Estado autoritário ou não escolher e acabar vivendo, e no que isso pode mudar a sua família, suas relações afetivas. Então o que eu gosto desse filme é que ele vai pelo afeto. É uma resistência pelo afeto, é super bonito", conta a atriz.

    "É um filme que conta a nossa história, um período importante da nossa história e que é importante relembrar para não cometer os mesmos erros", falou o ator.

    Os atores tentam ao menos passar pelos quase cem filmes que anualmente brigam por uma vaga entre os cinco selecionados na categoria de Melhor Filme Internacional. A última vez que o Brasil apareceu nesta lista foi em 1999, com outro filme de Walter Salles, "Central do Brasil". Na época, Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, foi indicada a "Melhor Atriz". Fernanda Montenegro também atua em "Ainda Estou Aqui", fazendo o papel de Eunice Paiva mais velha, já com Alzheimer.

    Agora, a filha dela aparece como uma possível indicação também na categoria de Melhor Atriz, ao lado nomes como Demi Moore, de "A Substância", Nicole Kidman, por "Babygirl", Angelina Jolie, com o filme "Maria Callas" e Karla Sofía Gascón, protagonista de “Emilia Pérez”.

    "Eu acho até que se acontecer alguma coisa, é milagre, porque é um ano de grandes performances", fala a atriz.

    Para Selton Mello é preciso "ter cuidado para, se isso não acontecer (indicação ou mesmo a vitória), parecer que o filme não rolou. E o filme já está rolando muito pelo mundo todo, então vamos ver até onde a gente vai. E acho que a gente vai longe".

    Em outubro, Fernanda Torres já recebeu pelo papel um prêmio da "Critics Choice Association", maior organização de críticos e jornalistas de entretenimento da América do Norte, que celebrou os talentos latinos.

    A atriz também concorreu na categoria de atuação no Festival de Veneza, onde o filme ganhou o prêmio de Melhor Roteiro.

    "Ainda Estou Aqui" chega aos cinemas brasileiros em 7 de novembro. O HBRFF 2024 que encerra neste sábado (2) trouxe ainda para Los Angeles outras oito produções, entre elas "Malu", de Pedro Freire, "Motel Destino", dirigido por Karim Ainouz, "Cidade; Campo" de Juliana Rojas, "Oeste Outra Vez", do diretor Érico Rassi, e "Baby", de Marcelo Caetano.

    2 November 2024, 2:20 pm
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