Ilustríssima Conversa

Folha de S.Paulo

A equipe de jornalistas da Ilustríssima, da Folha, entrevista autores de livros de não ficção ou de pesquisas acadêmicas.

  • 44 minutes 55 seconds
    Tiago Rogero: Brancos são o grupo identitário dominante no Brasil

    Em 2018, Tiago Rogero ouviu a escritora Conceição Evaristo falar, em uma palestra, que as escolas brasileiras ensinavam a Revolução Farropilha, no Rio Grande do Sul, mas não a Revolta dos Malês, levante de escravizados de Salvador em 1835.

    O jornalista diz que, depois disso, passou a pensar nas histórias nunca foram contadas ou silenciadas sobre a herança africana do país. Dessa inquietação, surgiu a ideia se debruçar sobre o passado do Brasil a partir das experiências e do protagonismo de pessoas negras.

    Nasceu assim o projeto Querino, investigação jornalística coordenada por ele que resultou em um podcast narrativo de oito episódios, lançados em 2022.

    A série em áudio acaba de virar livro pela Fósforo. O espírito da obra é ampliar e aprofundar questões e temas discutidos no podcast, mantendo a estrutura e o tom que centenas de milhares de ouvintes conhecem bem.

    Rogero, hoje repórter do jornal The Guardian, fala neste episódio sobre os desafios que enfrentou para transpor o áudio para o registro escrito e discute a dificuldade do Brasil de lidar com o passado escravocrata e reconhecer como africanos e seus descendentes forjaram o país.

    Ele diz que os brancos são o grupo que sempre dominou a pauta identitária brasileira e defende que a luta compartilhada com outros grupos étnico-raciais é essencial para o movimento antirracista hoje.

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    9 November 2024, 9:00 am
  • 44 minutes 12 seconds
    Jessé Souza: Direita e religião souberam manipular a raiva dos pobres

    Por que eleitores pobres que votaram em Lula e Dilma em quatro eleições seguidas passaram a dar vitórias à direita? O sociólogo Jessé Souza tenta responder a essa questão em seu mais recente livro, o recém-lançado "O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos" (Civilização Brasileira).

    Jessé, entrevistado deste episódio, divide essa classe empobrecida de eleitores em dois grupos: o pobre branco de São Paulo e do sul do Brasil e o negro evangélico. Em comum, ambos manifestam repúdio pela esquerda, por políticas de inclusão de grupos marginalizados e por programas como o Bolsa Família. Guardam, entretanto, diferenças significativas, que remetem às desigualdades do país, avalia ele.

    Na entrevista, Jessé também comenta o segundo turno em São Paulo, diz que o PT deveria aprender com Getúlio Vargas e  argumenta que a esquerda em geral afasta eleitores ao dar protagonismo a pautas identitárias.

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    19 October 2024, 8:00 am
  • 51 minutes 32 seconds
    Daniel Santini: Direita hoje vê tarifa zero como solução

    Quando as manifestações de Junho de 2013 estouraram, era fácil situar politicamente a defesa da gratuidade no transporte coletivo: o movimento estava ligado à esquerda.

    Dez anos depois, tudo mudou. O número de cidades brasileiras com tarifa zero universal passou de 19 em 2013 para 116 em 2024, e a maioria delas é governada por partidos de direita.

    Esse cenário é analisado por Daniel Santini no recém-lançado "Sem Catraca: da Utopia à Realidade da Tarifa Zero". Para o autor, a pandemia de Covid-19 escancarou que o transporte coletivo está colapsando no país.

    Neste episódio, ele afirma que mesmo uma política de gratuidade mal desenhada é melhor que o modelo atual, baseado na receita das catracas, e se contrapõe às críticas que qualificam a tarifa zero como algo irrealizável.

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    5 October 2024, 9:00 am
  • 48 minutes 19 seconds
    Ronilso Pacheco: Extrema direita usa gramática religiosa em projeto de radicalização

    A Igreja foi uma peça fundamental do colonialismo europeu e da escravização de africanos, mas a espiritualidade cristã pode se comprometer com um projeto de emancipação.

    Esse é o horizonte de "Teologia Negra: o Sopro Antirracista do Espírito", de Ronilso Pacheco, publicado em 2019 e relançado neste mês. Para Pacheco, a teologia não deve continuar a ser vista como uma área de estudo puramente especulativa, sem contato com a realidade social. Em vez disso, ele defende que se considere que a teologia nasceu no deserto, referência à jornada de libertação narrada no Êxodo.

    A religiosidade, nessa perspectiva, vem da experiência concreta da opressão —e a teologia negra, além de ressaltar as raízes africanas de acontecimentos e personagens bíblicos, disputa a própria ideia de uma espiritualidade universal, desvinculada da história dos povos.

    Pacheco é mestre em teologia pela Universidade Columbia, diretor do Iser (Instituto de Estudos da Religião), pastor auxiliar da Comunidade Batista e colunista do UOL. Na entrevista, ele afirma que a representação de Jesus como homem branco contribuiu para legitimar a escravidão e reverbera até hoje, por exemplo, na intolerância contra religiões de matriz africana.

    O pesquisador discute os riscos do nacionalismo cristão, movimento de extrema direita que, em sua avaliação, usa uma gramática religiosa para subjugar a sociedade a um cristianismo conservador, e aborda as perspectivas de organização política nesse contexto.

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    14 September 2024, 9:00 am
  • 42 minutes 10 seconds
    Marcelo Viana: Avanço da IA desafia ideia de superioridade humana

    Em 1611, Johannes Kepler apontou que organizar laranjas como os feirantes fazem hoje em dia —em arranjos hexagonais e camadas sobrepostas— era a melhor forma de aproveitar o espaço disponível. O astrônomo e matemático alemão, no entanto, não conseguiu provar essa conjectura na época e o problema só foi de fato resolvido em 2017, mais de 400 anos depois.

    Tanto tempo para tão pouco, muitas pessoas podem pensar. Afinal, que diferença isso faz?

    Em "Histórias da Matemática: da Contagem nos Dedos à Inteligência Artificial" (Tinta-da-China Brasil), Marcelo Viana mostra que até as pesquisas mais teóricas podem dar origem a novas tecnologias, mesmo que, em alguns casos, isso demore vários séculos.

    O pesquisador escreve que o problema do empacotamento de esferas (o exemplo das laranjas) ajuda hoje a detectar e corrigir erros de transmissão de informações e que pesquisas sobre números primos foram fundamentais para desenvolver a criptografia moderna, além de lembrar os desdobramentos na astronomia e na física, por exemplo, viabilizados pela matemática.

    Não que a utilidade imediata deva ser o único critério da ciência, diz Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), no Rio de Janeiro, um dos mais renomados centros de investigação matemática do mundo, mas pesquisadores não devem perder de vista as consequências concretas dos seus estudos.

    "Histórias da Matemática" reúne, em edição revista e atualizada, colunas publicadas na Folhaonde Viana escreve desde 2017.

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    31 August 2024, 9:00 am
  • 43 minutes 41 seconds
    Ligia Diniz: Ficção também deveria fetichizar corpos masculinos

    Se a leitura de um romance é uma espécie de alucinação —em que a pessoa que lê experimenta a vida de personagens—, quantas vezes as mulheres alucinaram ser homens?

    Esse é um dos pontos de partida de "O Homem Não Existe: Masculinidade, Desejo e Ficção" (Zahar), de Ligia Gonçalves Diniz, crítica literária e professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

    No livro, a autora discute como essa alucinação, movida pela hegemonia masculina na literatura, molda a subjetividade das mulheres. Em primeiro lugar, Diniz questiona de que forma ler como um homem por tanto tempo influenciou como ela própria se vê no mundo.

    A pesquisadora busca ultrapassar os termos usuais da equação de gênero, discutindo como obras de ficção incorporam obsessões fálicas e narrativas elogiosas de homens em fúria.

    Na entrevista, Diniz insiste ser essencial trazer a noção de corpo para esse debate e defende que escritores misóginos e obras machistas não deixem de ser lidos, por permitirem, entre outros motivos, conhecer os opressores por dentro.

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    17 August 2024, 9:00 am
  • 47 minutes 30 seconds
    Paolo Demuru: Conspirações seduzem por oferecer encanto

    Não é incomum que, depois de ver uma fake news ser desmentida, o que permaneça reverberando seja a própria informação falsa. Para Paolo Demuru, esse efeito mostra que tentar enfrentar a desinformação e narrativas conspiratórias usando só dados objetivos e argumentos racionais não é suficiente.

    Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Demuru discute em "Políticas do Encanto" os mecanismos do conspiracionismo e como as forças progressistas podem lidar com esse fenômeno.

    O autor aponta que fantasias de conspiração, além de oferecer explicações simples para problemas assustadores, permitem que as pessoas encontrem um propósito e se sintam parte de uma comunidade. Em outras palavras, proporcionam maravilhamento em um mundo competitivo e individualista.

    Neste episódio, Demuru debate a atitude preponderante em boa parte da esquerda hoje —que, por não se desvencilhar do que ele chama de supremacismo da razão, acaba se comportando como uma estraga festa.

    Para o pesquisador, recorrer à indignação só funciona até certo ponto: se quiser construir maiorias, a esquerda precisa apostar na esperança, disputar o encanto e usar o entusiasmo para engajar as pessoas.

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    3 August 2024, 9:00 am
  • 39 minutes 34 seconds
    Camilo Rocha: Música eletrônica combinou contracultura e elitização

    A história de São Paulo é entremeada com a história da cena de música eletrônica da cidade.

    Camilo Rocha defende a ideia em "Bate-estaca", livro que registra as transformações da noite e da própria São Paulo desde o fim dos anos 1980, quando DJs deixaram de ser figuras quase desconhecidas, gêneros como house e techno tomaram as pistas e o movimento clubber ganhou força na cidade.

    O autor é, ao mesmo tempo, observador e participante da história que narra: DJ e jornalista, Rocha acompanhou as mudanças dos sons e dos comportamentos na noite paulistana, as marcas da desigualdade de São Paulo nesse universo cultural e a explosão das raves nas proximidades da capital.

    Também assistiu à hiperfragmentação e a elitização da música eletrônica que levaram à decadência da cena em São Paulo na metade dos anos 2000.

    Na entrevista, Rocha fala sobre os clubes underground que ajudaram a projetar drag queens ao mainstream da cultura brasileira e a oferecer espaços de socialização a pessoas LGBTQIA+ e das fricções entre utopias filiadas à contracultura e o impulso de sucesso comercial que permeiam essa história.

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    20 July 2024, 9:00 am
  • 44 minutes 14 seconds
    Natalia Viana: Sem Assange e WikiLeaks, não teria havido Vaza Jato e Lula 3

    Natalia Viana tinha acabado de conhecer Julian Assange, em novembro de 2010, quando recebeu dele o recado em um papel: "Não fale uma palavra".

    A jornalista brasileira viajou para Londres sem saber quase nada sobre o projeto em que acabaria se envolvendo, mas logo se deu conta do alcance e dos riscos do que Assange e o WikiLeaks estavam planejando: a divulgação de 250 mil telegramas de embaixadas dos Estados Unidos.

    No recém-lançado "O Vazamento", a autora apresenta um balanço dessa experiência, que marcou a sua trajetória e mudou os rumos da sua carreira —bem como transformou o jornalismo nos anos 2010 e influenciou negociações diplomáticas e protestos populares ao redor do mundo.

    O livro transporta os leitores para o casarão, no interior da Inglaterra, em que a equipe se isolou antes da divulgação dos documentos e retrata a personalidade de Assange, registrando atitudes machistas e sua postura controladora, ao mesmo tempo que reconhece sua grandeza como figura histórica.

    O fundador do WikiLeaks passou os últimos 12 anos privado de liberdade. No fim de junho, ele se declarou culpado, como parte de um acordo para ser libertado, de uma acusação baseada na Lei de Espionagem dos EUA.

    Neste episódio, a jornalista diz que esse desfecho cria um precedente que ameaça o trabalho de jornalistas investigativos em todo o mundo e critica o uso, nos EUA, da ideia de segurança nacional para deslegitimar a publicação de documentos confidenciais de interesse público e apagar da história iniciativas como o WikiLeaks.

    • Produção e apresentação: Eduardo Sombini
    • Edição de som: Raphael Concli

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    6 July 2024, 9:00 am
  • 37 minutes 17 seconds
    [Conteúdo Patrocinado] Podcast discute o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes

    A cada hora, seis crianças ou adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil. Mas esse número deve ser bem maior, porque apenas 8,5% dos casos são notificados. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 aponta ainda que denúncias desse tipo de violência aumentaram 16,4%, em 2022, e a maioria das vítimas tem entre 10 e 17 anos.

    O combate à exploração sexual de crianças e adolescentes é causa social da Vibra, a maior distribuidora de combustíveis e lubrificantes do Brasil, e tema de podcast realizado em parceria com o Estúdio Folha, ateliê de conteúdo patrocinado da Folha de S.Paulo.

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    27 June 2024, 9:00 am
  • 37 minutes 33 seconds
    Raquel Barreto: Lélia Gonzalez captou resistência de negros em festas populares

    Lélia Gonzalez (1935-1994), uma das mais celebradas intelectuais negras brasileiras do século 20, publicou dois livros em vida.

    "Lugar de Negro" saiu em 1982, em coautoria com Carlos Hasenbalg. Já "Festas Populares do Brasil" foi lançado cinco anos depois. A obra teve patrocínio da Coca-Cola, e seus 3.000 exemplares foram distribuídos como presente de fim de ano.

    Por isso, o livro sempre teve uma circulação muito restrita —até agora, quando chega ao mercado em uma edição da Boitempo com materiais inéditos e textos de apoio.

    Neste episódio, o podcast recebe Raquel Barreto, curadora-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio, pesquisadora do pensamento de Lélia e autora do prefácio de "Festas Populares do Brasil".

    Ela discute como Lélia interpretou no trabalho a formação da cultura brasileira, partindo da ideia de que os africanos trazidos para o Brasil precisaram encontrar formas para recriar suas práticas culturais nos interstícios da escravidão, e fala sobre o papel das imagens na obra.

    O volume têm registros do bumba meu boi de São Luís, das cavalhadas de Pirenópolis, da celebração de Iemanjá de Salvador e do Carnaval do Rio, entre outras festas, produzidos por fotógrafos como Januário Garcia, Marcel Gautherot, Maureen Bisilliat e Walter Firmo.

    Veja aqui galeria de fotos do livro

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    22 June 2024, 9:00 am
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